quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aprender a suportar o sofrimento - "Não chores mais!"

Quem de nós não gosta de consolar uma criança quando esta chora? E rapidamente eliminar o problema e deixar a criança melhor! E não apenas, porque temos pena da criança, mas talvez também porque nós mesmos não aguentamos, que um ser tão pequeno tenha problemas...
De quem realmente temos compaixão da criança ou de nós próprios?
Reparem neste simples exemplo, o vosso filho magoou-se e vem ter convosco a chorar. Não aconteceu nada de grave, apenas um arranhão, e vocês como pais poderão dizer: "Não foi nada, não precisas chorar", ou ainda: "Meu pobre menino! Não chores! Faz um sorriso para mim" e inicia-se então uma manobra de distracção.
Em ambos os casos, nem através da opressão nem do exagero, a criança se sente verdadeiramente compreendida. Os seus sentimentos não são reconhecidos, são minimizados ou mesmo negados. Pela atitude dos pais, prevê-se que estes sentimentos desagradáveis desapareçam tão rapidamente quanto possível. E é através do "Não chores mais!" que eles são naturalmente proibidos.
Pode parecer uma reacção inofensiva e natural  dos pais, mas que praticada regularmente desencadeia comportamentos de bloqueio, incerteza e insegurança na criança. Ela recebe a mensagem: "Não posso confiar nos meus sentimentos", o que as confunde certamente. Ou ainda, "Não posso sentir o que sinto", o que dará à criança a impressão de que algo está errado com ela própria.

O que eu quero dizer com isto tudo é que nestas situações acabamos muitas vezes por perder o foco, prejudicando em certa medida o desenvolvimento do nosso "mais que tudo".
Mas qual será a atitude mais correcta?
Eu diria: Que basta estar presente e proporcionar alívio emocional.
Assim, para que uma criança se possa desenvolver bem emocionalmente são, do meu ponto de vista, necessárias duas coisas: que as emoções sejam aprovadas e que a criança tome responsabilidade das mesmas, ou seja, que a criança auto-avalie quanto ruins ou sem importância os acontecimentos do momento foram para ela e desta forma procurar solução para os seus problemas.


Isto parece complicado, mas basicamente o que eu quero partilhar é bem simples. Em vez de um "Não chores!" pode ser um "Acho que te magoas-te"(o que podemos denominar de Active listening ). Isto faz com que a criança sinta um alivio emocional, ela sente-se compreendida. 
E nós não deixaremos de estar presentes para a ajudar, aconchegando-a e acalmando-a com um mimo, um abraço, deixando-a vivenciar os seus sentimentos e quando se recuperar é provável que não se lamente, mas sim se sinta levada a sério e compreendida. 
Tudo poderá então terminar num: "Não foi tão ruim assim.Vou brincar outra vez." Fazendo, naturalmente, uma grande diferença sermos nós a dizê-lo ou a própria criança por si mesma, neste último caso teremos a prova que a nossa atitude funcionou. 
E claro que poderemos perguntar-lhe: "O que te poderá animar agora?"  ou simplesmente agirmos, calmamente. Mas mantendo sempre longe o conforto barato e mais rápido, aquele que reprime e elimina os sentimentos desagradáveis. 

Ouça as reais necessidades da criança. Estar presentes, conscientemente em cada situação é muitas vezes suficiente.
Se o nosso filho é levado a sério e pode expressar as suas próprias emoções, desenvolve um bom equilibrio mental e não é emocionalmente bloqueado. Desta forma, ele aprende com o nosso apoio a ser competente e confiante o suficiente para cuidar de si próprio.

17 comentários:

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Eu bem tento, mas a língua é mais rápida que a cabeça nestas situações ... e, la sai, o: Não chores!

Grrr... vou tentar (continuar a) corrigir-me!!

Fernanda Sampaio disse... [Responder Comentário]

O choro é tão natural para o ser humano, como o riso.
O meu filho raramente chora, enquanto a Letícia sempre foi muito chorona. Não só quando se magoa fisicamente, mas sobretudo naquilo que a magoa interiormente. Agora, com a idade noto que está a diminuir.
Nunca trocei, nunca minimizei, dou sempre colinho,e beijinhos, mas digo: pronto, já passou!

Beijinhos.

Sofia disse... [Responder Comentário]

@Fernanda É mesmo essa a chave da questão, o choro é um sentimento natural como qualquer outro. Não devemos reprimi-lo só porque é desagradável.

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Eu sempre fui muito chorona, principalmente em criança pré-adolescente... não tanto pelo fisicamente mas mais pelo interiormente.

Quando eu era pequena, lembro-me da minha mãe ralhar comigo quando eu chorava por exemplo a ver um filme :( que eu era tonta... e que estava a chorar para quê?

Posteriormente, já adolescente lembro-me de sair da sala, para chora no wc, ou para evitar a cena do filme que me faria chorar, para evitar os seus comentários...

Sofia disse... [Responder Comentário]

@ESpeCiaLmente GaSPaS Da teoria à prática há sempre uma determinada distância, não é verdade? Mas pensarmos nestas coisas sempre nos ajuda a transportar para o inconsciente o que no consciente faríamos sempre. De forma a agirmos naturalmente sem termos que pensar muito. E desta forma poderemos driblar a língua :)
Continua a tentar que por cá eu faço o mesmo.

Sofia disse... [Responder Comentário]

@ESpeCiaLmente GaSPaS Deves, com a tua experiência, certamente entender o que eu quero dizer. Não é nada agradável quando não nos sentimos levados a sério... quando não podemos expressar o que sentimos abertamente.

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Sim, é verdade. Depois de ter escrito o meu primeiro comentário é que me lembrei do que se passou comigo.

E que se calhar fez com que ainda hoje tente reprimir (quando consigo), ou isolar-me, calar-me.

E não quero que o meu Piki sinta isso.
Mas as coisas saem tão involuntárias que às vezes nem nos lembramos de alterar a forma de agir.
Obrigada pelo teu tópico de hoje, foi um bom abre olhos!

:))

Karine e Rafinha! disse... [Responder Comentário]

Oi Sofia, concordo com o texto....acho que sou um pouco assim...mas que o coração dói, dói...rsss

Kah disse... [Responder Comentário]

Acho que o mais difícil é se desacostumar a uma certa atitude. Por exemplo o "não foi nada!" acho que é quase unanimidade. Praticamente todo mundo usa. Aqui em casa usamos o "já vai passar".

Entender e respeitar que cada pessoa-criança tem uma resistência diferente para dor, tanto física quanto emocional, é bem complicado!
Beijão!

Mariana - viciados em colo disse... [Responder Comentário]

Como sempre: adorei!
CtrlC+CtrlV (com créditos, óbvio) para o email do marido, que faz isso direto... eu faço tbm, claro! mas é interessante ter uma base teórica para os dois trabalharem... concordo com a Kah: "já vai passar" e "não foi nada" viraram o novo por favor e obrigada - automáticos!
Beijoca

Adriana Alencar disse... [Responder Comentário]

Quando meus filhos choram por algo que realmente é desagradável, como limpar o narizinho, eu digo "eu sei que não é bom, mas é para o seu bem, você aguenta, já vai terminar"...
Bj
Adri

Ioly disse... [Responder Comentário]

Oi Sofia, vim conhecer seu cantinho, e gostei muito do post.
Pede reflaxão. Eu mesma nunca tinha feito uma análise sobre o tema. Vou ficar atenta com a Mi, agora em diante.
Estamos te seguindo lá do verdadesdemae.blogspot.com
bjks

Unknown disse... [Responder Comentário]

Oi Sofia,ótimo post,parabéns.Concordo plenamente com você,porém nem sempre hajo assim...vou prestar mais atenção nisto com a minha filhinha.
Bom final de semana.
Beijo.

Sarah disse... [Responder Comentário]

Você tocou num ponto interessante, não tinha pensado que poderia estar minimizando os sentimentos do pequeno... Acho que a vontade de confortar é tanta que não pensamos que chorar faz parte do processo. E realmente o "vai passar" tornou-se o consolo mais usual entre mães e pais. Adorei o texto!
beijo

Zuleima disse... [Responder Comentário]

Interessante a sua postagem...
Nesse caso, nunca tinha parado para refletir minha atitude (geralmente eu falo: não foi nada, não chora!). Mas agora, analisando a situação, vejo que você tem razão. Parabéns pelo texto.
Bjs

Anónimo disse... [Responder Comentário]

molto intiresno, grazie

Claudia Storvik disse... [Responder Comentário]

Oi Sofia, estou aqui conhecendo o seu blog e estou adorando. Este post trata de um tema muito importante, que continua valendo, talvez cada vez mais, a medida que as criancas crescem. Parabens. Bjs

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