terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Responsabilidades para 2011 - tempo de reflexão

A poucos dias da chegada de um novo ano, deixo aqui um espaço de reflexão e análise. Reflexão sobre as nossas atitudes como pais durante este ano. Fomos bons país? Demos o nosso melhor?
Neste ano em que fomos reis e escravos, onde errámos, onde fizemos o que devia ser. Onde deixamos o nosso cansaço nos atrapalhar, onde não aproveitamos o tempo, onde brincámos, amámos e demos muito carinho. Onde perdemos a paciência, nos sentimos tristes, os piores pais do mundo e os melhores e mais felizes. Onde demos muito colo, onde o negamos sem saber. Onde andámos perdidos e onde nos encontrámos com o simples sorriso do nosso tesouro. Onde duvidámos; onde tivemos grandes certezas... um ano em que mais uma vez nos sentimos pais...
E antes que o ano acabe talvez seja hora de renovarmos os nossos objectivos, analisando cada responsabilidade que temos como pais. Pois ser pais não é só semear a semente, é preciso também regá-la, dar-lhe luz e calor... é ser responsável e torná-la responsável...
Eu como adulta e mãe que sou, tenho essa responsabilidade. Tenho a responsabilidade de orientar e guiar o meu filho para que um dia ele seja capaz de seguir sozinho.
Que tipo de pessoa eu quero criar? Que tipo de adulto quero ajudar o meu filho a ser?

Mais uma vez quero entrar num novo ano ciente das minhas responsabilidade como mãe:
  • Sou responsável pelo bem estar e desenvolvimento do meu filho;
  • Sou responsável por fornecer todas as ferramentas que estiverem ao meu alcance para que ele trabalhe a sua personalidade;
  • Sou responsável pelos seus actos, pois acredito que atrás de uma criança com comportamentos problemáticos se encontra uma família problemática. E então não procuro entender o como o meu filho se comportou mas sim o porquê de tal comportamento;
  • Sou responsável pela sua alimentação;
  • Sou responsável pelo desenvolvimento da sua auto-estima e auto-confiança...
Porque quero preparar para o mundo uma criança que se torne num adulto capaz. Porque sei que não sou perfeita sinto necessidade de reflectir sobre as minhas acções como mãe. Porque para mim só faz sentido avançar na vida quando esta é pensada, analisada e reflectida. Com os erros também se aprende mas só se dermos conta que os cometemos e formos humildes, para nós mesmo, o suficiente para nos auto-corrigirmos.
Quero dar asas ao meu filho para que este seja um adulto confiante e capaz. Para que seja rico em princípios, bons sentimentos, ambições e sonhos...

Para todos os que por aqui passam desejo um óptimo 2011... que sejam os melhores adultos, pais e educadores do mundo... que analisem as suas responsabilidades e sejam responsáveis.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A todos um Bom Natal

Há uma musica de Natal que tem um gosto especial para mim, não sei se foi pelas vezes que em criança a cantei, só sei que traz com ela lindas recordações da minha infância, ao ouvi-la consigo viajar no tempo, ver-me de novo no teatro de Natal da escola a cantar com os meus colegas de sala. Consigo sentir a ansiedade que eram as noites de Natal em casa dos meus pais. O cheirinho a bolinhos, aos fritos tradicionais de Natal... uhhhmmm
Cada quadra é ouvida com tamanho sentimento e recordação que só de as ouvir me sinto completa no espírito de Natal. Podem achar que estou a exagerar, mas acreditem que é mesmo assim... uma musica tão simples mexe tanto comigo :)
E porque com este blog consegui conhecer gente tão querida achei que era justo como forma de agradecimento, por estarem aqui, partilhar com vocês. Pode parecer muito infantil mas leva com ela todos os bons sentimentos que consigo expressar.
Devo ficar uns tempos longe pois vou curtir o Natal com a minha família "não virtual" eheh
Ficam então já aqui os meus sinceros votos de:

UM NATAL CHEIO DE CARINHO PARA TODOS

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ameaçar com o Pai Natal - que coisa feia...

A figura do Pai Natal é óptima para fazer os pequenos se comportarem, a partir de Novembro já se começam a usar frases do tipo "Se não comes a sopa toda o Pai-Natal não te dá uma prenda", "Se não te portas bem o Pai-Natal fica zangado". Sabem que eu já ouvi isto imensas vezes e talvez já tenha dito para os meus sobrinhos (o meu Leo ainda não conhece o velhinho vestido de vermelho :)) e nunca tinha pensado que tais frases são de muito mau gosto. Os nossos pequenos que vivem com a magia de Natal com tanta ansiedade ainda são ameaçados pelos próprios pais e familiares. Nunca me tinha questionado com tal desproposito que nós adultos fazemos nestes momentos, até que li um post interessantíssimo no blog da Beatriz.
Eu sempre abominei a ameaça com método educativo, sempre tento ver o reverso da moeda nas horas em que os pequenos não se portam bem e fazem birra. Muitas vezes é mesmo dificil e é um esforço agir assim, porque fico também zangada, mas é assim que quero ser, educar sem ameaças. E em vez de um "Se não comes a sopa não vais para a rua brincar" um estimulante dará certamente melhores resultados "Comes a sopa toda e terás força para ires brincar para a rua".


Como Beatriz diz no post: Papai Noel gosta de criança Feliz o Pai-Natal não deve de forma alguma ser usado como uma autoridade na nossa casa. Ele vive na cabeça dos nossos pequenos durante esta época do ano como um senhor muito simpático e amigo das crianças. Não vamos estragar isso.
Obrigada Beatriz por me teres feito reflectir sobre o assunto, que coisa feia é essa de ameaçar com o Pai-Natal... ficou a lição.


"A fantasia é linda, não podemos estragar de nenhuma forma. Deixa o bom velhinho fazer a parte dele e só. A nossa é ensinar aos filhos que nem tudo se negocia!"

domingo, 19 de dezembro de 2010

Prendas de Natal para os mais pequenos


Uma vez o J de 4 anos queria um relógio que dava numa publicidade na TV, o relógio não dava horas era um relógio mágico que quando se carregava nele o boneco da publicidade se transformava em dragão e era um super herói (fazia parte de um desenho-animado que eu agora não sei o nome), o J ficava faxinado com aquela publicidade. E de tanto insistir acabou por ganhar o relógio no dia de aniversário. E o que aconteceu?? Ficou super triste e desiludido.... o relógio não funcionava... por mais que carregasse nos botões ele não se transformava em dragão... A mãe explicou-lhe então que teria que brincar de faz-de-conta que o relógio funcionava sim, funcionava direitinho na sua imaginação. E J passou a adorar o relógio e brinca muito com ele.
Esta é a história de J que eu presenciei e achei lindo ver a imaginação e criatividade do menino se desenvolver. Um brinquedo simples, de plástico colorido, com botões de faz-de-conta, ecrã de faz-de-conta, nem uma bateria tinha para fazer pelo menos "bip bip" ao carregar nos botões. Nada. Não tinha nada. Mas a meu ver um brinquedo cheio de tudo (com vários "bipes bipes", ecrã luminoso e que tinha o puder de transformar J num dragão super-heroí), um brinquedo super valioso, um brinquedo que fez enriquecer certamente aquela cabecinha cheia de sonhos e imaginação. Um brinquedo barato que certamente J não terá medo de brincar muito com ele com medo de estragar. Pois muitas vezes compram-se brinquedos caros, super "tecnológicos" mas que os pequenos não podem brincar sempre, pois podem estragar ou até mesmo porque não sabem brincar com ele sem a presença de um adulto.
Brincar é o "trabalho" das crianças. Brincar desenvolve a criatividade, é a brincar que se aprende como já falei aqui, é a brincar que se aprende os princípios de  interacção social,  a explorar sentimentos, a desenvolver causa e efeito, a estimular  a criatividade e a imaginação como referi já aqui.
Certamente muitos de vocês já fizeram as compras de Natal, mas gostava, no entanto, de partilhar um texto com vocês... um texto que me fez reflectir e pensar duas vezes antes de comprar as prendas das crianças cá da família.

"O brinquedo é o alimento da alma, alimento do sonho, da esperança. A criança que não brinca é como passarinho na gaiola. Perde o canto, perde o voo, perde o sonho. Quando brinca, voa, sonha, constrói e reconstrói mundos. Criança que brinca cria novas melodias e pinta o mundo com sua alegria.
Hoje colocam crianças em gaiolas e as enfeitam de joías, de jogos e brinquedos que brincam sozinhos. Robotizam-lhe a alma, congelam os pensamentos. 
Sim, congelam os pensamentos. A Natureza, o brincar livre oferece fluidez, instiga a criança a pensar, a escolher, não é pré-determinado. Na Natureza tudo é tão novo e tão vivo quanto a natureza da criança. Instiga o pensar, o reflectir, o sentipensar, o criar. No brincar livre a criança encontra sua sintonia e entra na sintonia da vida.
Criança que não puderam brincar, foram como passarinhos engaiolados. Foram obrigados a seguir este ou aquele modelo em nome das boas maneiras, dos bons modos, do não suje a roupa, não faça isso, aquilo; ou foram seduzidas e guiadas pela fantasia que não era sua, era da TV, do jogo electrónico, disto ou daquilo, tornam-se muitas vezes adultos frios, também congelados, mal amados.
Acho muito triste os pais que trabalham dia e noite para comprarem grandes televisões, lindos sofás, enfeitarem as "gaiolas" com lindos e caros brinquedos electrónicos e congelam as crianças para que não estraguem o lindo sofá, a linda cortina, o lindo brinquedo. Ou o brinquedo TV que congela o pensamento da criança...
Crianças não precisam do melhor brinquedo, do meu melhor apartamento ou casa, da melhor e mais enfeitada gaiola. Crianças precisam de sonho, de espaço para criação, de modelos humanos amorosos que lhes transmitam valores de paz, amor, não-violência, cooperação, coragem para não esmorecerem diante dos obstáculos. Modelos, exemplos, referencias que lhes mostrem o valor de sonhar e acreditar que após a tempestade virá a calmaria, que no final do arco-íris ou atrás da montanha pode haver um barril e tesouros - tesouros da alma. Ou mesmo, se não houver, que aprendam a apreciar as flores e a relva do caminho, o sabor de um carinho, a força da gratidão, a luz do coração.
Valores se ensinam vivendo valores e somente pessoas com coerência interna podem transmitir verdadeiros valores porque são igualmente verdadeiras.
Objectos têm preço, seres humanos têm valor e somente damos aquilo que temos.
Dê um minuto de colo, de carinho, de um sim amoroso, de um não igualmente amoroso (porque quem ama pões limites, ensina o caminho recto, transmite o amoroso discernimento), isto não tem preço, tem valor, tem cor, tem sabor, tem amor... Pai, mãe, tio, tia, educadora, quanto valor tem teu amor, tem teu ser? Dinheiro compra enfeites para gaiolas, mas enfeites e alegria para a alma, humanos vivos, com valor e com amor nenhum dinheiro poderá pagar, nenhum jogo, televisão, etc... poderá ensinar."
(Do livro "O Voo da águia: uma autobiografia" de Maria Dolores Alves)

Quando comprar um presente para uma criança pense no valor desse brinquedo. E dar brinquedos sim faz uma criança feliz, abrir um presente dá-lhe felicidade naquele momento. Mas para que esta felicidade se multiplique tem que ser acompanhada de tantos outros sentimentos, não é verdade??
E queremos todos nós ser bons pais, bons adultos para as nossas crianças.... aqui fica o meu desejo para este Natal: não congelem o pensamentos das nossas crianças, vamos dar-lhe assas para sonhar e viver no mundo da fantasia e da imaginação que só a magia da infância permite.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O casal precisa fazer parte da familia

Para o bem estar de uma família existem 2 factores a ter em conta no momentos de tomada de decisões: os filhos e os pais. Lógico?!! E tem que se ter em conta duas questões: "O que precisam os nossos filhos desenvolver para serem pessoas felizes e autoconfiantes?" e "O que precisam os pais para educar os filhos de forma satisfeita e feliz?"  Esta segunda questão está relacionada essencialmente com o casal em si e é muitas vezes posta de lado e esquecida a sua importância. 

Principalmente quando os filhos são ainda pequenos todas as nossas energias de pais são concentradas neles e a relação a dois é posta de parte. É inevitável que a vida de casal depois de ter filhos se altere, temos outras prioridades e responsabilidades, mas não deveríamos ser mais benevolentes quanto a esta dedicação no nosso papel de pais? Não esquecendo que ser pais não é só cuidar dos filhos mas sim cuidar da família como um todo?

Com a chegada do Leo a vida a dois cá de casa sofreu uma forte mudança e o facto de vivermos longe da família ainda torna as coisas mais difíceis.  Acabaram-se quase por completo as saídas a dois, ficamos com os raros jantares mais românticos que fazemos cá em casa, os quais estão permanente em risco se o Leo se lembra de acordar. Pelos testemunhos que leio e pelos casais que conheço isto não é muito diferente do que acontece em casa da maioria das familias. 

E porque é tão importante nós, como pais, não nos esquecermos de viver e aproveitar a nossa vida como casal?

Para construir uma família saudável e feliz é necessário cultivar com empenho todas as partes, deixar parte do jardim ao abandono vai fazer com que as flores comecem a secar. É verdade que existe o sentimento que nos une e a força que filhos em comum nos dá, mas uma coisa é estarmos juntos e felizes pelo que estamos a construir outra coisa é sentirmo-nos como um todo (casal e filhos) nessa construção. Pais felizes e satisfeitos com sua vida de casal são certamente um bom exemplo para os seus filhos. Boa disposição gera boa disposição. E certamente que os momentos menos bons da vida serão encarados de forma mais leve. Estes pais também se irão dedicar aos filhos, também se questionarão com a educação que estão a dar, com as necessidades dos seus filhos, mas estarão atentos a si como casal. Como fazem de tudo para satisfazer as necessidades dos seus filhos farão de tudo para satisfazer as do casal.

E é este equilíbrio entre o nosso papel de pais e casal que é necessário encontrar para a construção de uma família. Se nos dedicamos muito aos nossos filhos, se decidimos dar-lhe a melhor educação que conseguimos, se nos informamos sobre o que eles precisam em cada fase do seu desenvolvimento, se damos unha e carne para o seu bem estar então temos que incluir nessa lista de dedicação aos filhos a dedicação ao nosso parceiro porque só assim a nossa missão de sermos os melhores pais do mundo (pelo menos aos olhos dos nossos filhos) estará completa.

E você dedica-se à sua família como um todo? Eu vou certamente aplicar-me mais :)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma questão de prioridades??!!

(Mãe: "Agora não querido, estou ocupada" ; Título do livro: "Como criar o filho perfeito")

 (Pai: "Estou ocupado. Não podes fazer sozinho?" ; Título do Jogo: "Tempo de Qualidade - Basta juntar o pai"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prólogo - Birras

Os sentimentos podem-se dividir em negativos e positivos, tendo cada sentimento a sua utilidade, o seu propósito, tal como a raiva que nos faz sair de nós próprios descontroladamente. Expelir os nossos sentimentos é a nossa arma para a liberdade e auto-preservação. Embora que, por cultura, auto-controlo, respeito para com o próximo ou vergonha inibimos dentro de nós.
As crianças pequenas não têm auto-controlo e expressam os seus sentimentos de forma espontânea sejam eles gritos de alegria ou de raiva. Com o crescimento a criança tem que aprender a expressar os seus sentimentos de forma controlada adequada ao contexto social e orientando-os construtivamente.
Os pais podem e têm a função de ajudar a criança a utilizar a sua expressão de sentimentos. Infelizmente a maioria dos pais, incluindo eu mesma, tem problemas em lidar com as crises de fúria dos filhos, a tão discutida birra.
Pois é, meus amigos, com quase 15 meses o Leo entrou na fase das birras. E entrou com força desde Sábado. As primeiras manifestaram-se nas suas brincadeiras, estava ele a fazer uma torre com os blocos de madeira e esta caiu, como sempre acontece. E o que faz o Leo? Fica possuído de raiva  e atira com todas os blocos para bem longe dele. Nem parecia o meu fofo e meigo bebé :(
O auge (até agora) foi hoje na hora do almoço: estava eu a preparar a sopa dele e ele já estava na sua cadeirinha pronto para comer, muito bem disposto. Mas como a sopa estava quente eu não dei logo e disse que tinhamos que esperar.... foi o fim do mundo!!! Berrou, esperneou, chorou... levantou as mãos para me bater... e aí eu fiquei mesmo muito triste, falei calmamente com ele (com um grande esforço porque estava também muito zangada) e disse-lhe que estava muito triste. Deixei que continuasse no seu vendaval e continuei a colocar o almoço na mesa, ele acalmou e comeu alguma sopa. Passado uns minutos voltou a birra do nada... mesmo do nada :( Eu desisti de dar sopa e preparei o prato dele, ficou calmo num instante e começou a comer.
Estávamos nós de volta à nossa harmoniosa hora de almoço em família e o que acontece por surpresa minha??!!! O Leo vê o resto da sopa ainda na mesa e diz muito meiguinho para mim: "Sépa... sépa" e comeu a sopa toda, o prato principal e ainda uma fruta... super meiguinho e bem disposto.
Então eu fiz o diagnóstico: Inicio em avalanche da fase das BIRRAS!!!!
Já li muito sobre o assunto, textos de psicólogos, pedagogos... muitas histórias de outras mães... mas mesmo assim estou a sentir-me muito perdida sem saber o que fazer. Quero lidar com esta fase da forma mais calma e harmoniosa que conseguir. Pois sei que se trata de uma fase e os nossos pequenos precisam é de ajuda e não do nosso desespero.
Sei que a raiva que ele demonstra é a forma descontrolada do seu descontentamento por qualquer motivo, motivo que por vezes aos nossos olhos não faz sentido, mas é nesta fase, mais do que nunca, que temos que ver o mundo com os seus olhos e a sua compreensão, para não fazermos nenhuma injustiça. Sei que a raiva que ele demonstra não é violência. Violência é raiva mal direccionada.... e eu estou aqui para lhe dar as direcções que ele precisa.
Agora só me resta respirar fundo e contar até 10 ou 100 cada vez que vierem as crises... conversar com ele e ser firme. E acima de tudo controlar a minha raiva também... para o ajudar de forma serena.
Se alguém tiver uma poção milagrosa de cura contra este diagnóstico, por favor entre em contacto comigo :)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando não acontece só aos outros: repensar a nossa atitude na estrada

A aproximação do Natal não me traz só boas recordações, traz consigo também tristeza, magoa, saudade... Faz agora 4 anos que esta época do ano ficou mais cinzenta para mim e toda a minha família.
E porque vos conto agora isto, porque quero partilhar tristeza numa época do ano que partilhamos tantas alegrias?
A resposta é simples, porque quero chegar a mais gente, porque quero que sejam todos mais conscientes, porque quero viajar e andar de carro sem ter medo, tristeza e revolta.
Tinha na altura 23 anos, tinha terminado um curso, tinha trabalho, era feliz com a família e tudo corria bem quando numa fracção de segundos, num cruzamento a meio da noite um camião em excesso de velocidade e um semáforo desligado mudaram sua vida por completo.
A minha prima e grande amiga deixou a sua força de viver naquele dia, com inúmeras fracturas, traumatismos foi para o hospital, seguiram-se operações sem conta e um longo coma induzido.
Lembro-me quando a minha mãe me telefonou a contar o sucedido, na altura estava em Portugal e a minha prima na Alemanha. Tive imediata noção da gravidade da situação, chorei... chorei muito... passei dias a ler artigos na Internet... e mais triste ficava. Toda a família tinha esperanças que ela acordasse bem, mas no fundo todos sabíamos que ia ser difícil.
Ela era uma pessoa muito extrovertida, junto dela só conseguíamos estar com um sorriso na cara, era uma mulher independente mas hoje ela está totalmente dependente, numa cadeira de rodas, não fala (diz não, diz sim e alguns nomes, mas mais não consegue) alimenta-se por uma sonda... enfim perdeu a sua força...
A minha família ficou mais pobre, ficamos mais fortes mas mais tristes... as festas de família (casamentos, aniversários, Natal) perderam parte do seu encanto.
Quantas famílias passam por situações semelhantes, quantas famílias perderam seu entes queridos nas estradas??? E quantas vezes isto aconteceu por inconsciência de um condutor que por ter pressa, por ter bebido álcool, por gostar de velocidades, por distracção mudou a vida de tanta gente.
Eu sempre tive muito medo da estrada, quando estudava fazia todos os fins de semana uma estrada muito perigosa em Portugal, vi muitos acidentes :( mas tive sorte... Sou uma condutora consciente mas já arrisquei algumas vezes sem ter tido noção disso. Porque estava com pressa, porque estava cansada... Mas desde este acidente fiquei ainda com mais medo... passei a andar menos de carro... e quando tem que ser não vou descansada.

Mas será necessário acontecer tais acidentes no nosso meio para sentirmos a necessidade de sermos mais cuidadosos na estrada?
É verdade que nas estradas não dependemos só de nós mas sim de todos que as utilizam, mas se cada um de nós pensar antes de meter a sua vida e a dos outros em risco penso que teremos um mundo melhor... com menos famílias desmembradas, menos famílias tristes e pobres.

E porque prevenir é o melhor remédio, vamos conduzir mais atentos, vamos dar bons exemplos aos nossos filhos... vamos contribuir para termos famílias felizes...
Pensem nisto e conduzam com cuidado....

(As imagens fazem parte de uma campanha de sensibilização aqui na Alemanha, contra os excessos de velocidade nas estradas)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Protecção na medida certa

Quando vim viver para a Alemanha uma das coisas que me chamou mais a atenção foi a forma como os pais alemães lidam com as suas crianças, eles são menos protectores que nós portugueses. No inicio parecia-me que eles eram mais frios e menos carinhosos com os filhos, mas estava enganada. Observei várias vezes crianças nos parques a brincar com pais a vigiar, também trabalhei como babysitter com duas crianças alemãs e deparei-me com a realidade: os pais são super carinhosos, tal como qualquer bom pai, estão atentos aos seus filhos, mas não os limitam e protegem tanto como nós geralmente fazemos. Aqui todas as crianças brincam livremente na areia do parque, saltam, correm e experimentam todas as diversões, parecem uns macaquinhos :) em Portugal isso também acontece, mas os pais ficam junto das crianças, limpam logo assim que elas colocam as mãos na areia (isto com crianças de 10-12 meses) protegem quando a criança tenta trepar um escorrega, andam sempre com as mãos no ar. Por vezes parece que se sentiriam melhor se os seus filhos vivessem no interior de um airbag.
Ok, claro que não são todos os pais assim, mas esta diferença de cultura fez-me mais uma fez viajar nas minhas reflexões...
Uma criança demasiado protegida torna-se fraca e habitua-se a isso vivendo no papel de vitima. O melhor é acompanhar o nosso rebento sensível e ao mesmo tempo confiar nele. O que o fará mais forte para enfrentar a vida.
Geralmente pais que protegem demasiado os seus filhos também são demasiado benevolentes em casa. A violação de regras não têm consequências. Os pais justificam-se com o facto de a criança já seguir um estatuto com regras na escola e por isso em casa os pais se concentram em outras coisas que vão além do estabelecimento de limites e criam os chamados - filhos mimados. (não me refiro aqui a troca de carinho e atenção, mas sim à protecção exagerada).
Existem desde muito cedo na vida de uma criança razões para esta ser considerada aos olhos dos pais uma "coitadinha" pois, geralmente, um bebé nos seus primeiros meses de vida manifesta-se chorando, sente frequentemente desconforto, dor, depende muito dos pais. Quando no infantário fica com alguma frequência doente, fica triste porque ambos os pais têm que trabalhar...

Pais que se preocupam com as necessidades e capacidades dos seus filhos, são bons pais. Especialmente quando têm em conta a perspectiva do seu filho. Bons pais têm noção que o seu filho de um ano não se sentirá bem num shopping lotado ou num lugar com demasiadas atracções, que ficará nervoso e inquieto e portanto evitam esses locais. Também são bons pais aqueles que estão atentos aos sucessos e insucessos dos seus filhos, mobbing ou frustações na escola. Que tentam conhecer as causas de um desempenho menos bom, de desmotivação. O melhor é ter o filho ao seu lado e com ele trabalhar a seriedade e a confiança encontrando soluções em conjunto.
O problema está quando se ocupa a posição do filho - o filho está em desvantagem, então tem que se proteger. Não lhe exige nada, mas faz por ele, roubando-lhe a hipótese de ele próprio experimentar e resolver o obstáculo que se lhe depara.
Uma criança que conhece assim o mundo, que vive tudo no papel de vitima sensível e incapaz tomará esta forma de viver ao longo de anos na sua vida. E existem grandes hipóteses de ela ser vista pelos outros como a fraca,  indefesa e vulnerável. Terá a sua auto-estima danificada e terá dificuldade de alcançar sozinha as metas a que se propôs.
Uma pessoa caminha ao longo da vida de forma optimista ou pessimista, com auto-estima ou não, mas seja qual for a sua postura, esta estará certamente intimamente ligada com a forma como lidou com a vida nos seus primeiros passos ao lado dos seus pais.

Fortalece o teu filho, incentivando-o a fazer coisas sozinho, a experimentar coisas novas. Confia no teu filho e verás como a sua auto-estima crescerá mesmo com as pequenas conquistas que ele fizer. E como ele irá aprender com os erros a fazer o correcto.
E se o teu filho se sentir fraco e desmotivado, se pensa que não consegue, se tiver dificuldades em determinado momento, lembra-te o quão importante é encorajá-lo.
As situações da vida podem se ultrapassar de várias formas, devagar e com cuidado, aproveitando e saboreando cada momento, comentando, analisando, sabendo aceitar e vendo as coisas de mente-aberta. Por vezes é mesmo necessária uma pitada de coragem. Mas para isso é necessário VIVER a vida.
Também é claro para mim, que nem todas as fraquezas e limitações dos nossos filhos se podem transformar com força e determinação, mas certamente cada criança encontrará em si mesma qualquer coisa em que tenha talento. E serão certamente estes talentos, estas conquistas obtidas pela exploração, a coragem, a dedicação muito importantes para o resto da sua vida, mesmo que aos nossos olhos pareçam insignificantes.
Fortalecendo o nosso filho, dando-lhe asas e confiança estaremos certamente a fazer mais do que a protege-lo constantemente de uma queda ou uma zanga com os colegas. E criança é-se uma única vez na vida, vez essa que nos é dada para nos prepararmos para o mundo que aí vem... viver um infância de medo, receio, falta de coragem e auto-estima preparará uma criança para quê??
O mundo não é um mar de rosas e por muito que por vezes nos apeteça manter o nosso tesouro dentro do airbag essa não é um boa alternativa para o preparar para o seu futuro. Pois inevitavelmente um dia cruzar-se-á com espinhos e o airbag rebentará de forma violenta.  E se começarmos bem cedo com as pequenas coisas do dia-a-dia, nas suas brincadeiras, na escola, entre amigos a desenvolver a capacidade de saber enfrentar os desafios  estaremos certamente a facilitar-lhe a vida futura...
E como é difícil deixar um mundo melhor para os nossos filhos, deixemos ou menos filhos melhores para o mundo. Pessoas mais capazes em ir à luta, pessoas que sabem diferenciar o que é ou não perigoso, pessoas que se sabem proteger mas ao mesmo tempo são capazes de enfrentar as dificuldades de cabeça erguida e uma dose de coragem.
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