terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Responsabilidades para 2011 - tempo de reflexão

A poucos dias da chegada de um novo ano, deixo aqui um espaço de reflexão e análise. Reflexão sobre as nossas atitudes como pais durante este ano. Fomos bons país? Demos o nosso melhor?
Neste ano em que fomos reis e escravos, onde errámos, onde fizemos o que devia ser. Onde deixamos o nosso cansaço nos atrapalhar, onde não aproveitamos o tempo, onde brincámos, amámos e demos muito carinho. Onde perdemos a paciência, nos sentimos tristes, os piores pais do mundo e os melhores e mais felizes. Onde demos muito colo, onde o negamos sem saber. Onde andámos perdidos e onde nos encontrámos com o simples sorriso do nosso tesouro. Onde duvidámos; onde tivemos grandes certezas... um ano em que mais uma vez nos sentimos pais...
E antes que o ano acabe talvez seja hora de renovarmos os nossos objectivos, analisando cada responsabilidade que temos como pais. Pois ser pais não é só semear a semente, é preciso também regá-la, dar-lhe luz e calor... é ser responsável e torná-la responsável...
Eu como adulta e mãe que sou, tenho essa responsabilidade. Tenho a responsabilidade de orientar e guiar o meu filho para que um dia ele seja capaz de seguir sozinho.
Que tipo de pessoa eu quero criar? Que tipo de adulto quero ajudar o meu filho a ser?

Mais uma vez quero entrar num novo ano ciente das minhas responsabilidade como mãe:
  • Sou responsável pelo bem estar e desenvolvimento do meu filho;
  • Sou responsável por fornecer todas as ferramentas que estiverem ao meu alcance para que ele trabalhe a sua personalidade;
  • Sou responsável pelos seus actos, pois acredito que atrás de uma criança com comportamentos problemáticos se encontra uma família problemática. E então não procuro entender o como o meu filho se comportou mas sim o porquê de tal comportamento;
  • Sou responsável pela sua alimentação;
  • Sou responsável pelo desenvolvimento da sua auto-estima e auto-confiança...
Porque quero preparar para o mundo uma criança que se torne num adulto capaz. Porque sei que não sou perfeita sinto necessidade de reflectir sobre as minhas acções como mãe. Porque para mim só faz sentido avançar na vida quando esta é pensada, analisada e reflectida. Com os erros também se aprende mas só se dermos conta que os cometemos e formos humildes, para nós mesmo, o suficiente para nos auto-corrigirmos.
Quero dar asas ao meu filho para que este seja um adulto confiante e capaz. Para que seja rico em princípios, bons sentimentos, ambições e sonhos...

Para todos os que por aqui passam desejo um óptimo 2011... que sejam os melhores adultos, pais e educadores do mundo... que analisem as suas responsabilidades e sejam responsáveis.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A todos um Bom Natal

Há uma musica de Natal que tem um gosto especial para mim, não sei se foi pelas vezes que em criança a cantei, só sei que traz com ela lindas recordações da minha infância, ao ouvi-la consigo viajar no tempo, ver-me de novo no teatro de Natal da escola a cantar com os meus colegas de sala. Consigo sentir a ansiedade que eram as noites de Natal em casa dos meus pais. O cheirinho a bolinhos, aos fritos tradicionais de Natal... uhhhmmm
Cada quadra é ouvida com tamanho sentimento e recordação que só de as ouvir me sinto completa no espírito de Natal. Podem achar que estou a exagerar, mas acreditem que é mesmo assim... uma musica tão simples mexe tanto comigo :)
E porque com este blog consegui conhecer gente tão querida achei que era justo como forma de agradecimento, por estarem aqui, partilhar com vocês. Pode parecer muito infantil mas leva com ela todos os bons sentimentos que consigo expressar.
Devo ficar uns tempos longe pois vou curtir o Natal com a minha família "não virtual" eheh
Ficam então já aqui os meus sinceros votos de:

UM NATAL CHEIO DE CARINHO PARA TODOS

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ameaçar com o Pai Natal - que coisa feia...

A figura do Pai Natal é óptima para fazer os pequenos se comportarem, a partir de Novembro já se começam a usar frases do tipo "Se não comes a sopa toda o Pai-Natal não te dá uma prenda", "Se não te portas bem o Pai-Natal fica zangado". Sabem que eu já ouvi isto imensas vezes e talvez já tenha dito para os meus sobrinhos (o meu Leo ainda não conhece o velhinho vestido de vermelho :)) e nunca tinha pensado que tais frases são de muito mau gosto. Os nossos pequenos que vivem com a magia de Natal com tanta ansiedade ainda são ameaçados pelos próprios pais e familiares. Nunca me tinha questionado com tal desproposito que nós adultos fazemos nestes momentos, até que li um post interessantíssimo no blog da Beatriz.
Eu sempre abominei a ameaça com método educativo, sempre tento ver o reverso da moeda nas horas em que os pequenos não se portam bem e fazem birra. Muitas vezes é mesmo dificil e é um esforço agir assim, porque fico também zangada, mas é assim que quero ser, educar sem ameaças. E em vez de um "Se não comes a sopa não vais para a rua brincar" um estimulante dará certamente melhores resultados "Comes a sopa toda e terás força para ires brincar para a rua".


Como Beatriz diz no post: Papai Noel gosta de criança Feliz o Pai-Natal não deve de forma alguma ser usado como uma autoridade na nossa casa. Ele vive na cabeça dos nossos pequenos durante esta época do ano como um senhor muito simpático e amigo das crianças. Não vamos estragar isso.
Obrigada Beatriz por me teres feito reflectir sobre o assunto, que coisa feia é essa de ameaçar com o Pai-Natal... ficou a lição.


"A fantasia é linda, não podemos estragar de nenhuma forma. Deixa o bom velhinho fazer a parte dele e só. A nossa é ensinar aos filhos que nem tudo se negocia!"

domingo, 19 de dezembro de 2010

Prendas de Natal para os mais pequenos


Uma vez o J de 4 anos queria um relógio que dava numa publicidade na TV, o relógio não dava horas era um relógio mágico que quando se carregava nele o boneco da publicidade se transformava em dragão e era um super herói (fazia parte de um desenho-animado que eu agora não sei o nome), o J ficava faxinado com aquela publicidade. E de tanto insistir acabou por ganhar o relógio no dia de aniversário. E o que aconteceu?? Ficou super triste e desiludido.... o relógio não funcionava... por mais que carregasse nos botões ele não se transformava em dragão... A mãe explicou-lhe então que teria que brincar de faz-de-conta que o relógio funcionava sim, funcionava direitinho na sua imaginação. E J passou a adorar o relógio e brinca muito com ele.
Esta é a história de J que eu presenciei e achei lindo ver a imaginação e criatividade do menino se desenvolver. Um brinquedo simples, de plástico colorido, com botões de faz-de-conta, ecrã de faz-de-conta, nem uma bateria tinha para fazer pelo menos "bip bip" ao carregar nos botões. Nada. Não tinha nada. Mas a meu ver um brinquedo cheio de tudo (com vários "bipes bipes", ecrã luminoso e que tinha o puder de transformar J num dragão super-heroí), um brinquedo super valioso, um brinquedo que fez enriquecer certamente aquela cabecinha cheia de sonhos e imaginação. Um brinquedo barato que certamente J não terá medo de brincar muito com ele com medo de estragar. Pois muitas vezes compram-se brinquedos caros, super "tecnológicos" mas que os pequenos não podem brincar sempre, pois podem estragar ou até mesmo porque não sabem brincar com ele sem a presença de um adulto.
Brincar é o "trabalho" das crianças. Brincar desenvolve a criatividade, é a brincar que se aprende como já falei aqui, é a brincar que se aprende os princípios de  interacção social,  a explorar sentimentos, a desenvolver causa e efeito, a estimular  a criatividade e a imaginação como referi já aqui.
Certamente muitos de vocês já fizeram as compras de Natal, mas gostava, no entanto, de partilhar um texto com vocês... um texto que me fez reflectir e pensar duas vezes antes de comprar as prendas das crianças cá da família.

"O brinquedo é o alimento da alma, alimento do sonho, da esperança. A criança que não brinca é como passarinho na gaiola. Perde o canto, perde o voo, perde o sonho. Quando brinca, voa, sonha, constrói e reconstrói mundos. Criança que brinca cria novas melodias e pinta o mundo com sua alegria.
Hoje colocam crianças em gaiolas e as enfeitam de joías, de jogos e brinquedos que brincam sozinhos. Robotizam-lhe a alma, congelam os pensamentos. 
Sim, congelam os pensamentos. A Natureza, o brincar livre oferece fluidez, instiga a criança a pensar, a escolher, não é pré-determinado. Na Natureza tudo é tão novo e tão vivo quanto a natureza da criança. Instiga o pensar, o reflectir, o sentipensar, o criar. No brincar livre a criança encontra sua sintonia e entra na sintonia da vida.
Criança que não puderam brincar, foram como passarinhos engaiolados. Foram obrigados a seguir este ou aquele modelo em nome das boas maneiras, dos bons modos, do não suje a roupa, não faça isso, aquilo; ou foram seduzidas e guiadas pela fantasia que não era sua, era da TV, do jogo electrónico, disto ou daquilo, tornam-se muitas vezes adultos frios, também congelados, mal amados.
Acho muito triste os pais que trabalham dia e noite para comprarem grandes televisões, lindos sofás, enfeitarem as "gaiolas" com lindos e caros brinquedos electrónicos e congelam as crianças para que não estraguem o lindo sofá, a linda cortina, o lindo brinquedo. Ou o brinquedo TV que congela o pensamento da criança...
Crianças não precisam do melhor brinquedo, do meu melhor apartamento ou casa, da melhor e mais enfeitada gaiola. Crianças precisam de sonho, de espaço para criação, de modelos humanos amorosos que lhes transmitam valores de paz, amor, não-violência, cooperação, coragem para não esmorecerem diante dos obstáculos. Modelos, exemplos, referencias que lhes mostrem o valor de sonhar e acreditar que após a tempestade virá a calmaria, que no final do arco-íris ou atrás da montanha pode haver um barril e tesouros - tesouros da alma. Ou mesmo, se não houver, que aprendam a apreciar as flores e a relva do caminho, o sabor de um carinho, a força da gratidão, a luz do coração.
Valores se ensinam vivendo valores e somente pessoas com coerência interna podem transmitir verdadeiros valores porque são igualmente verdadeiras.
Objectos têm preço, seres humanos têm valor e somente damos aquilo que temos.
Dê um minuto de colo, de carinho, de um sim amoroso, de um não igualmente amoroso (porque quem ama pões limites, ensina o caminho recto, transmite o amoroso discernimento), isto não tem preço, tem valor, tem cor, tem sabor, tem amor... Pai, mãe, tio, tia, educadora, quanto valor tem teu amor, tem teu ser? Dinheiro compra enfeites para gaiolas, mas enfeites e alegria para a alma, humanos vivos, com valor e com amor nenhum dinheiro poderá pagar, nenhum jogo, televisão, etc... poderá ensinar."
(Do livro "O Voo da águia: uma autobiografia" de Maria Dolores Alves)

Quando comprar um presente para uma criança pense no valor desse brinquedo. E dar brinquedos sim faz uma criança feliz, abrir um presente dá-lhe felicidade naquele momento. Mas para que esta felicidade se multiplique tem que ser acompanhada de tantos outros sentimentos, não é verdade??
E queremos todos nós ser bons pais, bons adultos para as nossas crianças.... aqui fica o meu desejo para este Natal: não congelem o pensamentos das nossas crianças, vamos dar-lhe assas para sonhar e viver no mundo da fantasia e da imaginação que só a magia da infância permite.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O casal precisa fazer parte da familia

Para o bem estar de uma família existem 2 factores a ter em conta no momentos de tomada de decisões: os filhos e os pais. Lógico?!! E tem que se ter em conta duas questões: "O que precisam os nossos filhos desenvolver para serem pessoas felizes e autoconfiantes?" e "O que precisam os pais para educar os filhos de forma satisfeita e feliz?"  Esta segunda questão está relacionada essencialmente com o casal em si e é muitas vezes posta de lado e esquecida a sua importância. 

Principalmente quando os filhos são ainda pequenos todas as nossas energias de pais são concentradas neles e a relação a dois é posta de parte. É inevitável que a vida de casal depois de ter filhos se altere, temos outras prioridades e responsabilidades, mas não deveríamos ser mais benevolentes quanto a esta dedicação no nosso papel de pais? Não esquecendo que ser pais não é só cuidar dos filhos mas sim cuidar da família como um todo?

Com a chegada do Leo a vida a dois cá de casa sofreu uma forte mudança e o facto de vivermos longe da família ainda torna as coisas mais difíceis.  Acabaram-se quase por completo as saídas a dois, ficamos com os raros jantares mais românticos que fazemos cá em casa, os quais estão permanente em risco se o Leo se lembra de acordar. Pelos testemunhos que leio e pelos casais que conheço isto não é muito diferente do que acontece em casa da maioria das familias. 

E porque é tão importante nós, como pais, não nos esquecermos de viver e aproveitar a nossa vida como casal?

Para construir uma família saudável e feliz é necessário cultivar com empenho todas as partes, deixar parte do jardim ao abandono vai fazer com que as flores comecem a secar. É verdade que existe o sentimento que nos une e a força que filhos em comum nos dá, mas uma coisa é estarmos juntos e felizes pelo que estamos a construir outra coisa é sentirmo-nos como um todo (casal e filhos) nessa construção. Pais felizes e satisfeitos com sua vida de casal são certamente um bom exemplo para os seus filhos. Boa disposição gera boa disposição. E certamente que os momentos menos bons da vida serão encarados de forma mais leve. Estes pais também se irão dedicar aos filhos, também se questionarão com a educação que estão a dar, com as necessidades dos seus filhos, mas estarão atentos a si como casal. Como fazem de tudo para satisfazer as necessidades dos seus filhos farão de tudo para satisfazer as do casal.

E é este equilíbrio entre o nosso papel de pais e casal que é necessário encontrar para a construção de uma família. Se nos dedicamos muito aos nossos filhos, se decidimos dar-lhe a melhor educação que conseguimos, se nos informamos sobre o que eles precisam em cada fase do seu desenvolvimento, se damos unha e carne para o seu bem estar então temos que incluir nessa lista de dedicação aos filhos a dedicação ao nosso parceiro porque só assim a nossa missão de sermos os melhores pais do mundo (pelo menos aos olhos dos nossos filhos) estará completa.

E você dedica-se à sua família como um todo? Eu vou certamente aplicar-me mais :)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma questão de prioridades??!!

(Mãe: "Agora não querido, estou ocupada" ; Título do livro: "Como criar o filho perfeito")

 (Pai: "Estou ocupado. Não podes fazer sozinho?" ; Título do Jogo: "Tempo de Qualidade - Basta juntar o pai"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prólogo - Birras

Os sentimentos podem-se dividir em negativos e positivos, tendo cada sentimento a sua utilidade, o seu propósito, tal como a raiva que nos faz sair de nós próprios descontroladamente. Expelir os nossos sentimentos é a nossa arma para a liberdade e auto-preservação. Embora que, por cultura, auto-controlo, respeito para com o próximo ou vergonha inibimos dentro de nós.
As crianças pequenas não têm auto-controlo e expressam os seus sentimentos de forma espontânea sejam eles gritos de alegria ou de raiva. Com o crescimento a criança tem que aprender a expressar os seus sentimentos de forma controlada adequada ao contexto social e orientando-os construtivamente.
Os pais podem e têm a função de ajudar a criança a utilizar a sua expressão de sentimentos. Infelizmente a maioria dos pais, incluindo eu mesma, tem problemas em lidar com as crises de fúria dos filhos, a tão discutida birra.
Pois é, meus amigos, com quase 15 meses o Leo entrou na fase das birras. E entrou com força desde Sábado. As primeiras manifestaram-se nas suas brincadeiras, estava ele a fazer uma torre com os blocos de madeira e esta caiu, como sempre acontece. E o que faz o Leo? Fica possuído de raiva  e atira com todas os blocos para bem longe dele. Nem parecia o meu fofo e meigo bebé :(
O auge (até agora) foi hoje na hora do almoço: estava eu a preparar a sopa dele e ele já estava na sua cadeirinha pronto para comer, muito bem disposto. Mas como a sopa estava quente eu não dei logo e disse que tinhamos que esperar.... foi o fim do mundo!!! Berrou, esperneou, chorou... levantou as mãos para me bater... e aí eu fiquei mesmo muito triste, falei calmamente com ele (com um grande esforço porque estava também muito zangada) e disse-lhe que estava muito triste. Deixei que continuasse no seu vendaval e continuei a colocar o almoço na mesa, ele acalmou e comeu alguma sopa. Passado uns minutos voltou a birra do nada... mesmo do nada :( Eu desisti de dar sopa e preparei o prato dele, ficou calmo num instante e começou a comer.
Estávamos nós de volta à nossa harmoniosa hora de almoço em família e o que acontece por surpresa minha??!!! O Leo vê o resto da sopa ainda na mesa e diz muito meiguinho para mim: "Sépa... sépa" e comeu a sopa toda, o prato principal e ainda uma fruta... super meiguinho e bem disposto.
Então eu fiz o diagnóstico: Inicio em avalanche da fase das BIRRAS!!!!
Já li muito sobre o assunto, textos de psicólogos, pedagogos... muitas histórias de outras mães... mas mesmo assim estou a sentir-me muito perdida sem saber o que fazer. Quero lidar com esta fase da forma mais calma e harmoniosa que conseguir. Pois sei que se trata de uma fase e os nossos pequenos precisam é de ajuda e não do nosso desespero.
Sei que a raiva que ele demonstra é a forma descontrolada do seu descontentamento por qualquer motivo, motivo que por vezes aos nossos olhos não faz sentido, mas é nesta fase, mais do que nunca, que temos que ver o mundo com os seus olhos e a sua compreensão, para não fazermos nenhuma injustiça. Sei que a raiva que ele demonstra não é violência. Violência é raiva mal direccionada.... e eu estou aqui para lhe dar as direcções que ele precisa.
Agora só me resta respirar fundo e contar até 10 ou 100 cada vez que vierem as crises... conversar com ele e ser firme. E acima de tudo controlar a minha raiva também... para o ajudar de forma serena.
Se alguém tiver uma poção milagrosa de cura contra este diagnóstico, por favor entre em contacto comigo :)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando não acontece só aos outros: repensar a nossa atitude na estrada

A aproximação do Natal não me traz só boas recordações, traz consigo também tristeza, magoa, saudade... Faz agora 4 anos que esta época do ano ficou mais cinzenta para mim e toda a minha família.
E porque vos conto agora isto, porque quero partilhar tristeza numa época do ano que partilhamos tantas alegrias?
A resposta é simples, porque quero chegar a mais gente, porque quero que sejam todos mais conscientes, porque quero viajar e andar de carro sem ter medo, tristeza e revolta.
Tinha na altura 23 anos, tinha terminado um curso, tinha trabalho, era feliz com a família e tudo corria bem quando numa fracção de segundos, num cruzamento a meio da noite um camião em excesso de velocidade e um semáforo desligado mudaram sua vida por completo.
A minha prima e grande amiga deixou a sua força de viver naquele dia, com inúmeras fracturas, traumatismos foi para o hospital, seguiram-se operações sem conta e um longo coma induzido.
Lembro-me quando a minha mãe me telefonou a contar o sucedido, na altura estava em Portugal e a minha prima na Alemanha. Tive imediata noção da gravidade da situação, chorei... chorei muito... passei dias a ler artigos na Internet... e mais triste ficava. Toda a família tinha esperanças que ela acordasse bem, mas no fundo todos sabíamos que ia ser difícil.
Ela era uma pessoa muito extrovertida, junto dela só conseguíamos estar com um sorriso na cara, era uma mulher independente mas hoje ela está totalmente dependente, numa cadeira de rodas, não fala (diz não, diz sim e alguns nomes, mas mais não consegue) alimenta-se por uma sonda... enfim perdeu a sua força...
A minha família ficou mais pobre, ficamos mais fortes mas mais tristes... as festas de família (casamentos, aniversários, Natal) perderam parte do seu encanto.
Quantas famílias passam por situações semelhantes, quantas famílias perderam seu entes queridos nas estradas??? E quantas vezes isto aconteceu por inconsciência de um condutor que por ter pressa, por ter bebido álcool, por gostar de velocidades, por distracção mudou a vida de tanta gente.
Eu sempre tive muito medo da estrada, quando estudava fazia todos os fins de semana uma estrada muito perigosa em Portugal, vi muitos acidentes :( mas tive sorte... Sou uma condutora consciente mas já arrisquei algumas vezes sem ter tido noção disso. Porque estava com pressa, porque estava cansada... Mas desde este acidente fiquei ainda com mais medo... passei a andar menos de carro... e quando tem que ser não vou descansada.

Mas será necessário acontecer tais acidentes no nosso meio para sentirmos a necessidade de sermos mais cuidadosos na estrada?
É verdade que nas estradas não dependemos só de nós mas sim de todos que as utilizam, mas se cada um de nós pensar antes de meter a sua vida e a dos outros em risco penso que teremos um mundo melhor... com menos famílias desmembradas, menos famílias tristes e pobres.

E porque prevenir é o melhor remédio, vamos conduzir mais atentos, vamos dar bons exemplos aos nossos filhos... vamos contribuir para termos famílias felizes...
Pensem nisto e conduzam com cuidado....

(As imagens fazem parte de uma campanha de sensibilização aqui na Alemanha, contra os excessos de velocidade nas estradas)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Protecção na medida certa

Quando vim viver para a Alemanha uma das coisas que me chamou mais a atenção foi a forma como os pais alemães lidam com as suas crianças, eles são menos protectores que nós portugueses. No inicio parecia-me que eles eram mais frios e menos carinhosos com os filhos, mas estava enganada. Observei várias vezes crianças nos parques a brincar com pais a vigiar, também trabalhei como babysitter com duas crianças alemãs e deparei-me com a realidade: os pais são super carinhosos, tal como qualquer bom pai, estão atentos aos seus filhos, mas não os limitam e protegem tanto como nós geralmente fazemos. Aqui todas as crianças brincam livremente na areia do parque, saltam, correm e experimentam todas as diversões, parecem uns macaquinhos :) em Portugal isso também acontece, mas os pais ficam junto das crianças, limpam logo assim que elas colocam as mãos na areia (isto com crianças de 10-12 meses) protegem quando a criança tenta trepar um escorrega, andam sempre com as mãos no ar. Por vezes parece que se sentiriam melhor se os seus filhos vivessem no interior de um airbag.
Ok, claro que não são todos os pais assim, mas esta diferença de cultura fez-me mais uma fez viajar nas minhas reflexões...
Uma criança demasiado protegida torna-se fraca e habitua-se a isso vivendo no papel de vitima. O melhor é acompanhar o nosso rebento sensível e ao mesmo tempo confiar nele. O que o fará mais forte para enfrentar a vida.
Geralmente pais que protegem demasiado os seus filhos também são demasiado benevolentes em casa. A violação de regras não têm consequências. Os pais justificam-se com o facto de a criança já seguir um estatuto com regras na escola e por isso em casa os pais se concentram em outras coisas que vão além do estabelecimento de limites e criam os chamados - filhos mimados. (não me refiro aqui a troca de carinho e atenção, mas sim à protecção exagerada).
Existem desde muito cedo na vida de uma criança razões para esta ser considerada aos olhos dos pais uma "coitadinha" pois, geralmente, um bebé nos seus primeiros meses de vida manifesta-se chorando, sente frequentemente desconforto, dor, depende muito dos pais. Quando no infantário fica com alguma frequência doente, fica triste porque ambos os pais têm que trabalhar...

Pais que se preocupam com as necessidades e capacidades dos seus filhos, são bons pais. Especialmente quando têm em conta a perspectiva do seu filho. Bons pais têm noção que o seu filho de um ano não se sentirá bem num shopping lotado ou num lugar com demasiadas atracções, que ficará nervoso e inquieto e portanto evitam esses locais. Também são bons pais aqueles que estão atentos aos sucessos e insucessos dos seus filhos, mobbing ou frustações na escola. Que tentam conhecer as causas de um desempenho menos bom, de desmotivação. O melhor é ter o filho ao seu lado e com ele trabalhar a seriedade e a confiança encontrando soluções em conjunto.
O problema está quando se ocupa a posição do filho - o filho está em desvantagem, então tem que se proteger. Não lhe exige nada, mas faz por ele, roubando-lhe a hipótese de ele próprio experimentar e resolver o obstáculo que se lhe depara.
Uma criança que conhece assim o mundo, que vive tudo no papel de vitima sensível e incapaz tomará esta forma de viver ao longo de anos na sua vida. E existem grandes hipóteses de ela ser vista pelos outros como a fraca,  indefesa e vulnerável. Terá a sua auto-estima danificada e terá dificuldade de alcançar sozinha as metas a que se propôs.
Uma pessoa caminha ao longo da vida de forma optimista ou pessimista, com auto-estima ou não, mas seja qual for a sua postura, esta estará certamente intimamente ligada com a forma como lidou com a vida nos seus primeiros passos ao lado dos seus pais.

Fortalece o teu filho, incentivando-o a fazer coisas sozinho, a experimentar coisas novas. Confia no teu filho e verás como a sua auto-estima crescerá mesmo com as pequenas conquistas que ele fizer. E como ele irá aprender com os erros a fazer o correcto.
E se o teu filho se sentir fraco e desmotivado, se pensa que não consegue, se tiver dificuldades em determinado momento, lembra-te o quão importante é encorajá-lo.
As situações da vida podem se ultrapassar de várias formas, devagar e com cuidado, aproveitando e saboreando cada momento, comentando, analisando, sabendo aceitar e vendo as coisas de mente-aberta. Por vezes é mesmo necessária uma pitada de coragem. Mas para isso é necessário VIVER a vida.
Também é claro para mim, que nem todas as fraquezas e limitações dos nossos filhos se podem transformar com força e determinação, mas certamente cada criança encontrará em si mesma qualquer coisa em que tenha talento. E serão certamente estes talentos, estas conquistas obtidas pela exploração, a coragem, a dedicação muito importantes para o resto da sua vida, mesmo que aos nossos olhos pareçam insignificantes.
Fortalecendo o nosso filho, dando-lhe asas e confiança estaremos certamente a fazer mais do que a protege-lo constantemente de uma queda ou uma zanga com os colegas. E criança é-se uma única vez na vida, vez essa que nos é dada para nos prepararmos para o mundo que aí vem... viver um infância de medo, receio, falta de coragem e auto-estima preparará uma criança para quê??
O mundo não é um mar de rosas e por muito que por vezes nos apeteça manter o nosso tesouro dentro do airbag essa não é um boa alternativa para o preparar para o seu futuro. Pois inevitavelmente um dia cruzar-se-á com espinhos e o airbag rebentará de forma violenta.  E se começarmos bem cedo com as pequenas coisas do dia-a-dia, nas suas brincadeiras, na escola, entre amigos a desenvolver a capacidade de saber enfrentar os desafios  estaremos certamente a facilitar-lhe a vida futura...
E como é difícil deixar um mundo melhor para os nossos filhos, deixemos ou menos filhos melhores para o mundo. Pessoas mais capazes em ir à luta, pessoas que sabem diferenciar o que é ou não perigoso, pessoas que se sabem proteger mas ao mesmo tempo são capazes de enfrentar as dificuldades de cabeça erguida e uma dose de coragem.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Interpretação das curvas de crescimento

Quem de nós, mães, não se deparou já com as curvas de crescimento, que a cada consulta com o pediatra lá vai ele pesar e medir o nosso pequeno e analisar no gráfico se está tudo dentro dos parâmetros.
É acerca desta analise que hoje vos quero falar. A quantas de vocês o pediatra já disse que o vosso filho está abaixo do peso? A quantas de vocês foi aconselhado a adição de suplemento (LA)? 
Eu conheço vários casos pessoalmente e alguns li em blogs que sigo e isto me fez pensar.
Sou seguidora fiel de Carlos Gonzálvez (doutor em Pediatria e escritor de vários livros sobre a criança e a alimentação  infantil). Ele defende que as curvas de crescimento são, a maioria das vezes, mal interpretadas pelos profissionais de saúde e explica os erros que frequentemente são cometidos. Erros estes, que levam muitas vezes ao insucesso da amamentação, à introdução de complemento quando este não é necessário ou mesmo em casos mais graves à obesidade infantil.
Neste vídeo, Carlos Gonzálvez deixa todo muito claro, apresentando até alguns exemplos práticos, visto o vídeo estar em espanhol e eu achar que o assunto merece ser partilhado com vocês fica aqui o meu resumo para aqueles que não dominam a língua.


Estudos realizados mostraram que as antigas curvas de crescimento (norte americanas e que eram usadas pelos pediatras) não coincidem com gráficas realizadas com um conjunto de bebés amamentados durante um ano. Os bebés exclusivamente alimentados com leite materno engordam mais rapidamente no inicio da sua vida, mas a partir dos 2-3 meses engordam menos e estas curvas de crescimento indicam que a maioria destes bebés estão abaixo de peso e daí a implementação de suplemento. E porque é que assim é?
As gráficas antigas foram elaboradas a partir de um grupo de crianças que não tinham sido exclusivamente amamentadas, o que conduziu a um problema grave: a partir dos 2-3 meses de idade de bebés amamentados as mães eram levadas a achar que os bebés não estavam a mamar o suficiente ou que o leite estava a falhar, Eram mesmo aconselhadas pelos médicos a adicionar complemento, o que levava a consequente diminuição do leite materno, tornando aos olhos da mãe a premissa irróneamente correcta.
Com estas curvas de crescimento não foi tido em conta que existe um padrão de crescimento distinto entre bebés amamentados e bebés com LA, estes últimos alteram o seu metabolismo e acabam engordando mais.
Devido a estes factos as curvas de crescimento foram recentemente actualizadas e podem ser consultadas neste site: http://www.who.int/childgrowth/standards/en/ No entanto, existem muitos profissionais de saúde que ainda utilizam as curvas de crescimento anteriores.


Continuam mesmo assim a existirem erros na interpretação das curvas de crescimento.
O que são afinal estas curvas? 
São conjunto de curvas adequadas para avaliar o crescimento e estado nutricional tanto de grupos de população quanto de crianças em idade pré-escolar. São feitas recorrendo a um número elevado de bebés (bebés saudáveis) que são pesados e medidos e a partir dos valores obtidos construídos gráficos.
O que significa então o percentil 50?
Significa que 50% dos bebés usados na construção do gráfico (os quais pretendem representar a população) têm um crescimento segundo está linha de percentil.
Se o bebé está abaixo do percentil de 3% pode ser um bebé que está com problemas, mas também pode ser um dos 3% de bebés que é perfeitamente normal, simplesmente tem um baixo peso em comparação com a média da população.
Ou seja, quando se diz que os bebés têm que crescer de acordo com as curvas de crescimento quer dizer que numa população (cidade, pais) tem que haver mais ou menos 50% de crianças abaixo do percentil de 50%. Se por exemplo nesse pais não existe 50% de bebés abaixo do percentil 50 quer dizer que este país pode estar a sofrer um problema de obesidade infantil. O mesmo ocorrendo quando num pais não existem 50% de crianças acima do percentil 50%, indicando este problemas de desnutrição.
A aplicação das curvas é óptima para estudos de população, a sua interpretação a uma criança tem que ser diferente e feita com muita atenção.
Dizer-se que quando um bebé está abaixo da média está mal. É um erro frequente e grave. É uma média. Certo? Se todos os que estão abaixo desta ficarem acima, esta deixa de ser a média.
Este erro na interpretação das curvas está a levar-nos a problemas graves de obesidade infantil, pois se se pensa que estar  abaixo da média não é normal, acaba-se por conseguir que todas as crianças fiquem acima da média.
A última recta não significa o mínimo. O que significa o 3? Significa que 3% dos bebés que entraram na pesquisa que eram completamente saudáveis e que representam uma população, estão abaixo desta linha. Logo se o deu filho está abaixo do percentil 3 pode fazer simplesmente parte desse 3% da população de bebés saudáveis. Aqui o pediatra deverá analisar a situação com uma atenção especial.
O seu filho está no percentil 25? É uma criança saudável? Então, muito provavelmente, ele faz parte dos 25% da população que segue este peso.

O que temos de ter em atenção na interpretação dos gráficos:
- As linhas de percentil não são caminhos a seguir, são sim resultado da média de um conjunto de pontos que levaram à sua obtenção. A linha de crescimento do seu filho não será  seguramente uma linha perfeita;
- Bebés exclusivamente amamentados não aumentam de peso de forma igual a bebés alimentados com leite artificial;
- É normal nos primeiros 6 meses de vida cruzar a linha de percentis o que não indica, salvo raras excepções de doença do bebé, problemas, o bebé está sim a encontrar a sua normalidade;
- Emagrecimentos bruscos devem ser analisados com atenção;
- Grandes variações na relação peso e altura devem ser consideradas, se o filho tem uma altura muito inferior à média e um bom peso não se trata de um problema de alimentação, mas poderá indicar problemas endócrinos;

O mais importante é escutar a mãe, respeitar a sua preocupação. Antes de dar suplemento o mais indicado é analisar como está a ser o bebé alimentado, se está a ser amamentado a que intervalo de tempo ocorre cada mamada. O bebé pode não estar com problemas mas na maioria dos casos o suplemento é aconselhado e este vai piorar a produção de leite.
Existem casos em que o bebé engordou 80g e segundo a interpretação do médico deveria engordar 85g  e lhe é dado suplemento!! Neste caso este não faz sentido. E sei que não é fácil para uma mãe, que não quer certamente ver seu filho a passar mal, recusar a opinião do médico. Mas vamos pelo menos tentar estar mais atentas na interpretação feita a estas curvas e não nos fixemos excessivamente a elas.
E claro que infelizmente existem crianças com problemas de peso e mães com problemas de produção de leite mas estes não são a maioria e deverão ser correctamente diagnosticados.

Espero ter deixado claro o que queria transmitir, pois considero o assunto muito importante, mas não foi nada fácil  :)
Uma óptima semana

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Natureza do ser

O meu Ser é natural e fisicamente posso ter a forma humana mas o meu Ser contém muito mais do que isso. Dele fazem parte a família que me deu as raízes (que me identificam como eu mesma) e também os ramos para eu ir longe, eu enchi-me de folhas, umas mais especiais que outras, umas caíram em determinado Outono, outras renovam-se a cada Primavera. Existe também aquelas que permanecem, são folhas perenes, seja Verão ou Inverno elas estão sempre lá e eu sei disso. Depois existe aquele que prolongou seus ramos até mim e desde então partilhamos o nosso fruto.
Existe momento mais especial que o brotar de vida a cada Primavera e que o renovar a cada Outono.
Pois é, a Natureza tem destas coisas, para a mim, o Outono é a proximidade do Inverno, mexe com as minhas sensações. Sinto falta da família, sinto a nostalgia. Sinto o tempo a passar... 
Mas apesar disso sinto que é tempo de renovação, é tempo de deixar para trás o que não nos traz satisfação, o que nos queima as energias. Existem coisas e pessoas que nos arrancam as energias e eu ralava-me com isso.  Este Outono estou a trabalhar para a renovação, um novo inicio na minha vida. Quero usar as minhas raízes para ganhar nutrientes e forças e os meus ramos para levar perto da luz as minhas folhas. Quero entrelaçar-me nos ramos que me aconchegam e quero partilhar a minha alegria.
Pois eu tenho uma família que estou a criar. Tenho fruto que dará semente e que só germinará se eu lhe der a protecção e os guias que ele precisa. Se eu por minha vez o ajudar a criar raízes e ramos. Para se sentir seguro... para ir longe.
É nestes momentos que eu ganho força para dedicar a minha vida à minha família, a esta família que eu quero cuidar, que eu quero fazer germinar de sucesso e muita felicidade. O céu está cinzento, a temperatura muito baixa, mas aqui no meu Ser não sinto frio. Sinto o aconchego...

Haverá razão de ser maior que não seja manter o nosso Ser nutrido e saudável??!!

(não liguem ao meu devaneio de pensamentos, aqui em casa reina o silêncio, os meus dois tesouros já dormem.. e eu deixei a minha figura humana voar em contemplações soltas, não tomei nenhum narcótico descansem... )

Ler para as crianças - efeitos positivos

A capacidade e interesse na leitura construí-se desde bem cedo. Ler em voz alta para os nossos filhos é um óptimo começo para interessar a criança pela leitura. E nós como pais podemos ajudar nesse processo, podemos despertar nos nossos filhos o entusiasmo por livros, a curiosidade pelos textos, novas ideias, pessoas e visões do mundo. E podemos começar bem cedo, existem livros para todas as idades, desde livros só com imagens para bebés até livros de fantasia e aventura para crianças na escola. Escolha e variedade não falta e a meu ver qualidade também não. E a importância da leitura é de conhecimento de todos, eu até já falei nisso aqui e aqui.
Como eu já tantas vezes referi e que não é novidade para ninguém: Os pais são o modelo dos seus filhos. E estes desenvolvem-se à imagem deles. Quando os pais lêem regularmente (e lêem também para os filhos) despertam não só o interesse em livros como o interesse das crianças a começarem a ler regularmente.
A regra é: Leia regularmente para o seu filho. As crianças acostumam-se muito facilmente à rotina do cotidiano, integrar no seu dia a dia momentos de leitura não será difícil se estes se tornarem uma rotina.
Se a criança se anima com a leitura irá passar ao longo do tempo de uma actividade proposta pelos pais para uma imposta pela criança. Criando desde já os alicerces para o futuro leitor.

A leitura em voz alta para os nossos filhos tem muitos efeitos positivos:
  1. Fortalece o contacto social - ao lermos para o nosso filho estamos a construir uma estreita relação, um vínculo com ele. Oferecemos-lhe atenção, amabilidade, segurança ...  o resultado disto observa-se muitas vezes durante a sessão de leitura quando a criança pede contacto físico, um abraço, um mimo;
  2. Reforça as ligações emocionais - entre a criança e o leitor, os sentimentos vividos pela história são partilhados por ambos;
  3. Através da leitura as crianças vivem novas experiências - experiências que nem sempre são possíveis viver no dia-a-dia. E aqui refiro-me não somente a experiências emocionais e sociais mas também intelectuais. Por exemplo se no final da história fizermos perguntas e o nosso filhos tentar responder, se tentarmos juntos prolongar a história ou pedir-lhe que faça um desenho sobre o que lemos.
  4. A leitura promove o interesse - Mesmo quando a criança já ouviu a história mil vezes, esta vai continuar a ensiná-la a aprofundar os conteúdos. Ela irá conseguir encontrar sempre algo novo, uma nova perspectiva de ver e analisar a história.
  5. Aumenta as competências linguísticas - aumenta o vocabulário e promove a interiorização automática das regras gramaticais mesmo antes de as conhecer. 
  6. Estimula a imaginação - Esta nem preciso comentar, certamente já todos ouviram uma criança a tentar recontar a história, fazendo imagens mentais desta, acrescentando as suas vivências do dia-a-dia e até mesmo criando uma nova história :)
  7. Promove a concentração - Mas temos que ter atenção na idade do nosso filhos e não massacrá-lo com leituras excessivas.
  8. Estimula o sentido de orientação - Os acontecimentos numa história são descritos temporalmente, e a criança desenvolve a capacidade de os identificar e se orientar por eles.
  9. Aumenta os horizontes- Estimula o nosso filho a usar os livros como uma fonte valiosa de entretenimento e auto-informação. Apenas aqueles que desenvolvem uma boa habilidade de leitura, pode ao longo de toda a sua vida aprender.
E as vantagens de lermos para os nossos filhos não terminam quando este aprende a ler. Bem pelo contrário passa a fazer ainda mais sentido.
E porque é tão importante? Repara em ti mesmo, acabaste de ler este post sem mesmo pensares nas letras e estrutura das frases o que quer dizer que conseguiste completamente sem problemas entender o que aqui escrevi (assim espero). Sem esforço ou dificuldade porque tens todas as competências de leitura interiorizadas.
Uma leitura fluente precisa ser treinada. As crianças precisam nos seus primeiros anos uma grande concentração - elas ainda não possuem esta fluidez em ler e ao mesmo tempo entender o conteúdo. Motiva sempre o teu filho para que o auto-interesse na leitura nunca se perca.

Uma pequena dica: Lê novamente os efeitos positivos da leitura que escrevi, mas agora direcciona-os para ti mesmo. Ler é óptimo para todos.
E lembra-te: Ler para os nossos filhos não pode ser um momento de sacrifício para nós, mas sim um momento que damos a nós próprios. Um momento que presenteamos a nós e ao nosso filho juntos!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

É possivel ser feliz comendo brócolos

Como já referi faz algum tempo aqui sou bastante rígida e atenta quanto à alimentação do meu pequeno. Hoje li no blog da Thelma um post fantástico, um testemunho que merece os meus parabéns. É a escrever algo do género que me quero ver fazer daqui a 2 anos.
Eu poderia escrever sobre o assunto e dar o meu ponto de vista mas a Thelma disse tudo, e concluiu lindamente. Desculpa-me pelo abuso mas faço minhas as tuas palavras:



"Eu acredito que uma criança não sente mais prazer com uma bala cheia de corantes do que chupando uma manga suculenta, com o caldo escorrendo pelo braço. E duvido que seja mais divertido lamber um pirulito do que fazer barulho para tomar a poça de suco que se formou no fundo de um prato cheio de melancia docinha.
Acho que o segredo é não transformar a alimentação em problema, em sofrimento. Aos seis meses, quando os alimentos vão sendo introduzidos aos poucos, podem chegar com alegria às mãos dos bebês. São como brinquedos macios e coloridos para levar à boca, como eles gostam de fazer com tudo o que encontram.
Esse momento é importantíssimo, é a hora de abrir a porta para um mundo de sabores, aromas, texturas, consistências, cores, muitas cores! E enquanto a criança aprende a comer está desenvolvendo linguagem, coordenação motora, percepção e discriminação visual; está construindo cultura, criando comportamentos, formando hábitos para uma vida longa e saudável."

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quando devemos começar a ensinar o bebé o certo e o errado?

Já várias vezes foi feita esta pergunta ao maravilhoso motor de pesquisa do Google e este direccionou para o meu blog e para que não volte a acontecer as pessoas chegarem aqui e não encontrarem a resposta directa ao seu problema decidi responder directamente :)
Pois é, eu tenho a resposta. Embora seja autodidacta em muitas áreas não sou especialista em educação, em psicologia do desenvolvimento, em gestão do desenvolvimento infantil e mais uns quantos "ãos" e "logias, mas tenho a resposta.
Aqui vai: Devemos começar a ensinar o bebé o certo e o errado desde que engravidamos.
Não passas a comer mais saudável? Não deixas de fumar? De beber álcool? Não te preocupas mais com o teu bem estar? Com o teu humor? Até com os teus desejos?
Pois eu acredito que é aqui que começamos a ensinar o certo e o errado aos nossos filhos e continuamos este processo até que eles sejam capazes de por si só analisarem os seus actos corrigi-los e adaptá-los a cada situação da sua vida.
Agora deixando este tom mais de brincadeira mas ao mesmo tempo sério, o que eu quero dizer é que ensinar o certo e o errado é feito pelo exemplo e partilha de confiança que nós damos aos nossos filhos, com o exemplo que deixamos a todas as crianças em geral. Em quem mais elas poderão confiar e seguir se não formos nós adultos. O nosso papel é acima de tudo dar o exemplo.
Se deres um bom exemplo ao teu filho, se partilhares com ele confiança, carinho e atenção, se lhe deres o seu espaço mas ao mesmo tempo os seus limites, acredita que será muito fácil ele compreender o que é certo ou errado. Mesmo quando se trata de pequenas coisas, como por exemplo, não mexer no fogão porque se pode queimar, conversa com o teu filho, ele confia em ti... dá-lhe atenção e ensina-lhe o que é estar quente ou frio, ele entenderá. E até coisas mais sérias como é errado roubar, é errado bater... nestas nada melhor que o bom exemplo, não acham?
E ensinar o que é certo, como se faz? Esta então é de caras... é certo partilhar carinho, é certo ajudar, ser-se simpático, respeitar o próximo... como vamos ensinar o nosso filho? Simples. Dando o exemplo mais um vez. E quando o devemos fazer? Já, agora e sempre....

Eu ainda acredito que ser boa pessoa, praticar o bem é daquelas epidemias bem contagiosas...
"Faz aos outros o que gostas que te façam a ti"
E tu? Dás um bom exemplo?

Espero ter enriquecido os resultados das pesquisa no google :)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O meu filho não pára quieto - uma questão de concentração

Quantas vezes já eu ouvi mães a lamentarem-se que os seus filhos não param quietos.... Pois é, todas as crianças pequenas, desde que saudáveis, são curiosas e interessadas, são imparáveis mas isso é completamente normal.
No entanto, existem crianças que durante todo o dia não param nem um segundo, não conseguem estar sentadas ou concentradas num brinquedo por uns minutos. Não conseguem estar sossegadas, não conseguem estar à mesa e dormirem uma sesta ou adormecerem de noite é um drama.
Como poderemos ajudar os nossos filhos a encontrarem momentos de calma e concentração?
Li um artigo aqui (está em alemão e farei aqui um resumo do que achei mais interessante). Neste artigo defende-se que uma criança que não consegue encontrar momentos de calma e concentração não está em equilíbrio, pois para um desenvolvimento saudável tem que existir um equilibrio entre os momentos calmos e os momentos de actividade e exercicio.
Mas então quando desenvolve a criança esta capacidade de concentração e encontra este equilibrio?

Desde os primeiros dias de vida no nosso filho começa a desenvolver a sua capacidade de concentração. Nesta fase eles começam a colocar os dedos na boca e sugam, olham com atenção para as suas próprias mãos, começam a mexer os dedos. Com cerca de 3 meses a coordenação mãos-olhos já está bastante desenvolvida e ele consegue mesmo observar e mexer as duas mãos ao mesmo tempo. Quando o nosso bebé estiver neste "jogo de mãos" conseguimos ter noção de quão alerta e concentrado ele está. Nestes momentos é importante não distrai-lo, não lhe oferecer nenhum brinquedo, deixando-o simplesmente estar concentrado e ocupado com as suas mãos.
Com cerca de 4 a 5 meses começa a pegar em brinquedos explorando-os e colocando na boca, isto requer uma grande concentração e persistência. Também já é capaz de se concentrar com o olhar em objectos ou brinquedos que estejam bastante afastados. Chamando mesmo a atenção dos pais para que lhe deêm o que ele viu e quer perto dele. Nesta fase e até cerca dos 9 meses, por vezes é difícil para os pais perceberem o que o bebé quer, é essencial uma boa ligação entre ambos, os pais que conseguem responder positivamente a estes momentos estarão a ajudar no desenvolvimento da concentração.
Dos 10 aos 12 meses o bebé tenta imitar o que nós fazemos quando brincamos com ele, como por exemplo, empurrar um carro, atirar uma bola, colocar copinhos uns dentro de outros. Devemos dar ideias de como deve brincar mas sempre devagar e uma coisa de cada vez.
No 2º ano de vida a concentração desenvolve-se pela repetição. Quando o nosso filho se diverte com um brinquedo vai querer sempre repetir, vai querer ouvir sempre a mesma história ao deitar (o Leo quer sempre a história do patinho que faz anos :) ) e pela 10ª vez quer que cantemos a musica preferida (já passou pela fase do Alecrim e agora quer sempre uma musica alemã... que não me falte a voz eheheh). Esta fase da repetição é muito importante, embora para nós pais por vezes se torna aborrecida, mas a criança vai de todas as vezes descobrir algo novo.
No 3º ano de vida, um ano de persistência... Não é um sinal de falta de atenção quando a criança fica inquieta durante uma brincadeira, correndo ou começando outra actividade. Nesta fase eles ainda não são capazes de se concentrar por mais de  5-7 minutos de cada vez. Nós podemos ajudar mostrando um novo brinquedo com o qual se possa distrair sozinho. São muito interessantes nestes momentos os Legos e puzzles e outros brinquedos de montar. Além de desenvolverem a criatividade são óptimos para a concentração.
Dos 4 aos 5 anos entramos na fase da inspiração. O nosso filho está cada vez mais capaz de perseguir metas e fazer todos os esforços para alcançá-las. Para desenvolver a concentração e perseverança precisa de se sentir bem, divertido com o que está a fazer. Nesta fase muitos elogios e comentários positivos incentivam o nosso filho a atingir os seus objectivos. Melhor incentivo à motivação não existe!
No 6º ano de vida, "Não dar o braço a torcer" é a máxima. Até entrar na escola a criança deve ser capaz de se concentrar entre 20 a 30 minutos mesmo que a actividade não o motive muito. Para tal nós podemos ajudar, incentivando de forma atenciosa e com carinho a que a criança termine a actividade que se propôs. Por exemplo, está a fazer um puzzle e desiste, devemos tirar um pouco do nosso tempo para o ir ajudar motivando-o assim a completá-lo. Estamos juntos a ler um livro, ele só deve ir embora quando terminarmos, podemos motivá-lo questionando com o que virá a seguir na história. Ele está a fazer um desenho e não tem interesse em terminar, neste caso podemos mostrar-nos interessados no que ele desenhou e questioná-lo sobre o desenho, motivando-o a continuar concentrado a desenhar.

E se desta forma, brincando atenciosamente com o nosso filho, dando-lhe cada oportunidade a cada fase do seu desenvolvimento, tenha como resultado uma maior concentração e ele consiga melhor alcançar o equilíbrio saudável entre a calma e a actividade, eu estou nessa corrida, e vocês?

Deram-me dois Carinhos

Já estava em falta para postar este selo que a Sarah me ofereceu, ela tem um cantinho lindo: o  Mãe do Bento, obrigada és uma querida.

E hoje mesmo fui me deparar com mais um carinho oferecido pela Adri do Caixinha da Adri, digam lá que não é começar a semana em alta. Obrigada Adri adorei.
 

Ambos os selos pedem para repassar a 10 pessoas mas como é muito difícil escolher pois adoro todos os Blogues que sigo e todos vocês merecem este carinho vou repassar a quem mais comenta, que tal? Adoro receber comentários, pois fazem-me bem, fazem-me pensar que não escrevo para o vazio, fazem-me reflectir ainda mais sobre o assunto e por vezes ajudam-me a reformular as minhas opiniões. Obrigada mesmo a todos os que mais comentam são uns amores. Podem levar os dois selos ou aquele que acharem mais giro :)
E os nomeados são:
ESpeCiaLmente GaSPaS
Alma
Um beijo para todas e uma óptima semana

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Educar à mesa: o que vai além da educação alimentar

Do livro "Quem Ama, Cuida"  de Américo Canhoto, partilho hoje com vocês as atitudes e valores que podem resultar de uma boa educação à mesa. Atitudes que vão muito além da Educação Alimentar, esta não menos importante, mas que ficará para discutirmos numa outra oportunidade.
Atitudes e valores que podem ser desenvolvidos durante as refeições:

Paciência – Aguardar nossa vez com calma, mastigar correctamente o alimento;
Respeito – Consumir apenas o necessário, respeitar o organismo. Esperar que os outros se sirvam primeiro;
Humildade, gratidão, consideração – Agradecer pela refeição. Elogiar o esmero com que o alimento foi preparado e agradecer, se for o caso, a quem nos convidou para a refeição;
Solicitude, humildade – Servir os outros, facilitar para que as pessoas se sentem à mesa ou se levantem;
Caridade, respeito, sobriedade – Evitar julgar aquele que cometeu algum deslize na mesa, não tecer críticas ao que foi servido;
Sobriedade – Não encher o prato, levar o alimento à boca em pequenos bocados, evitar ruídos ao beber e não bater com os talheres no prato;
Parcimónia, moderação – Comer o suficiente; servir-se sempre pensando primeiro nos outros;
Frugalidade – Comer apenas o indispensável. Economizar nos temperos;
Perseverança – Evitar alimentos que levem ao vício e à compulsão; alimentar-se conforme as necessidades;
Firmeza de carácter – Recusar os alimentos indesejáveis ao seu organismo com delicadeza e sem maiores comentários;
Modéstia, simplicidade – À mesa, evitar gestos teatrais ou etiquetas descabidas. Quando aprendemos a sentir o gosto e o odor de cada ingrediente não inventamos misturas que não combinam;

É interessante termos a noção que pequenas atitudes à mesa podem resultar em princípios e valores no nosso intimo e que poderão ser usados naturalmente por cada um de nós no dia a dia.
Do meu ponto de vista, impor nas crianças estes comportamentos com o intuito de lhes desenvolver estes valores será uma imposição que ficará vazia, sem valor se não for acompanhada com o nosso exemplo. Não podemos exigir que o nosso filho comam com calma e mastigue bem, desenvolvendo a sua paciência, se nós mesmos comemos a correr, não acham? Sei que por vezes é complicado juntar todos à mesa, atitude esta que é mais uma oportunidade em família de desenvolver, a meu ver, valores como a amizade e a confiança, mas se nos organizarmos e fizermos por isso é possível, nem que seja uma só refeição por dia.
Para mim a hora das refeições é um momento essencial na construção de uma família, é um momento de partilha das experiências vividas no dia a dia e embora nem sempre seja possível reunirmo-nos à mesa é algo que fazemos com frequência. E se juntamente a este momento em família podemos estar a tornar-nos melhores pessoas melhor ainda.
E você come em família e dá o exemplo?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As formas de distribuir carinho II

Nos últimos tempos ando muito inspirada com as agulhas e a máquina de costura :) e o Leo tem ganho uns carinhos extras, foram as pantufas  e agora este álbum de fotos em tecido com fotos da família que está longe. Como já contei aqui vivo longe da família, mas apesar disso quero muito que o "meu mais que tudo" se sinta ligado a ela então agora ele pode vê-los e dizer o nome deles  :) sempre que lhe apetecer o álbum fica sempre na caixinha de brinquedos :)
E como eu já disse existem imensas formas de distribuir carinho e fazermos o nosso pequeno mais feliz, não é verdade?
Estes posts saem um pouco da linha principal deste blog, mas quis partilhar com vocês. E como está ai a chegar o Natal ficam também como ideias de prendas.














Um óptimo dia para todos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Os pais também fazem birras

Tenho andado bastante cansada o que me faz ter menos paciência, sou daquelas pessoas que se não durmo bem tenho que lutar contra o mau-humor grande parte do dia. E como os pais bem sabem ter um bebé em casa é (pelo menos por uns tempos) sinónimo de noites mal dormidas, de sonos interrompidos. Conclusão: mãe cansada, mãe rabugenta... mãe que até faz birrar...
Sim birra e já não tenho 3 anos...
Tenho andado seriamente a pensar no assunto e acho que muitas vezes os nossos pequenos ficam chateados, batem o pé, choram sem motivo para isso, somente porque Nós é que estamos sem paciência, porque dissemos um "não" que não havia necessidade e não queremos ceder - Fazemos Birra.
No outro dia o Leo queria brincar com as molas da roupa, mas como já havia pelo chão da sala imensos brinquedos espalhados eu disse que não e tentei distrai-lo... Mas o Leo estava mesmo com vontade e começou a chorar e a barafustar... foi então que fez "clic" na minha cabeça. "Estou a fazer birrinha!" Porque é que o Leo não poderia brincar com as molas? Não se vai magoar, não vai estragar, então porque eu disse não???
Acabei por me consciencializar que não estava correcto negar, dei algumas molas para ele brincar, ele adorou e esteve quase 30 minutos, ali no tapete a brincar com as molas, a explorar as cores, as formas, a atirar, a apanhar, super divertido (acreditam??), enquanto isso eu ainda tive um tempinho para mim. E no final ficou todo contente a ajudar-me a colocá-las de novo na caixinha.

Se uma criança é educada de forma a seguir limites bem estabelecidos, sou levada a crer que grande parte  das birras que esta fizer têm um motivo que nós pais podemos evitar: está cansada, tem sono, está num sitio com muita gente e isso deixa-a nervosa...
Se nós adultos temos autonomia para escolher os lugares e os momentos para fazer o que precisamos ou queremos será sensato ter isso em conta com os nossos pequenos, não acham?
E se eles quiserem brincar com coisas mais exóticas, molas de roupa, carrinhos de linhas... acho que não haverá grande problema e além disso será um momento rico na exploração de novos materiais e texturas. :)
Quantas vezes nós mesmo não nos distraímos por longos períodos de formas mais estranhas... eu ás vezes enquanto tomo o café rasgo em pedacinhos pequeninos o pacotinho de açúcar enquanto converso... e isso até me diverte :)
No fundo é tudo uma questão de atitude. Vou tentar canalizar as minhas energias positivas para todos os momentos em que tenho que cuidar do Leo, para estar bem disposta e fazer menos birras.
E vocês também fazem birras?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os pais devem-se envolver?

Maria de 6 anos gosta muito de brincar com o seu vizinho mais novo. Depois de algum tempo de brincadeira em que Maria tratava o pequeno com carinho, teve uma mudança de humor e tirou da mão do pequeno com alguma violência o balde de plástico e disse bem alto e zangada "É meu!". Ele ficou triste mas continuou a acompanhar Maria, esta não estava para brincar com ele e disse aos gritos "Deixa-me em paz, vai embora! Porque andas sempre atrás de mim? Eu quero estar sozinha."
A mãe do pequeno que observava a cena desde o inicio aproximou-se disse para Maria "Isso não foi bonito..." e confortou o pequeno que começava a chorar.

Como devem os pais reagir numa situação destas? Barafustar com a Maria? Proibi-la de brincar com o nosso filho? Isto seria exclusão social, e não ajudaria nenhuma das crianças, certo?
Nem todas as crianças são meigas e bem dispostas como aquelas que idealizamos que brinquem com os nossos filhos.
Já pensaram que Maria com a sua atitude pode-nos estar a mostrar inconscientemente, a sua própria experiência com frustração, rejeição. Nos tempo que correm não é nada incomum encontrar pais stressados e sem tempo (por vezes esta falta de tempo passa também pela falta de organização e prioridades, mas esta é outra história). Os pais sentem que não têm disponibilidade para lidar com os seus filhos. Os filhos acabam muitas vezes expostos a sentimentos que não conseguem lidar sozinhos como é o caso da rejeição, precisam de ajuda e acompanhamento.
Seria bom que os pais de Maria  tivessem isso em atenção. Mas infelizmente quando os pais se sentem criticados procuram, muitas vezes, mostrar que o que fazem é o melhor e não pensam que podem estar a errar. Mesmo os pais podem precisar de ajuda e compreensão de forma a ganharem confiança.
Não é fácil admitir que como pais estamos a falhar... não é fácil dar crédito a quem nos critica... os outros são pais e nós também. Por vezes, parece que a máxima que existe rege o ditado "Entre marido pais e mulher filhos, não se mete a colher."
Mas como se pode ajudar a Maria e proteger ao mesmo tempo as outras crianças? Os pais do pequeno, na história que contei, podem reagir com Maria de forma apreciativa, simpática e com atenção, embora esta atitude por vezes seja difícil de tomar quando vemos o nosso filho a ser mal tratado. Eles podem dizer-lhe algo como: "Eu entendo que possa não te apetecer mais brincar com ele. Já foi muito bom o tempo em que brincaram juntos. Mas então diz-lhe de forma mais simpática. Ou então, podes-me chamar e então eu brincarei com ele. Também não deves gostar quando alguém fala assim contigo." Talvez esta experiência positiva ajude Maria a lidar com os seus sentimentos, com as suas frustrações.
Este tipo de situações pode-nos custar tempo e paciência mas certamente que o resultado será gratificante. Maria aumentará a sua auto-estima ao sentir a sua atitude reconhecida. E certamente esta atitude positiva tanto da parte dos pais como da Maria será canalizará para as outras crianças.

E se o mundo que temos não é como nós o idealizamos para os nossos filhos o melhor a fazer é tomar atitudes e nada como atitudes de respeito, reconhecimento e carinho, não acham?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aprender a suportar o sofrimento - "Não chores mais!"

Quem de nós não gosta de consolar uma criança quando esta chora? E rapidamente eliminar o problema e deixar a criança melhor! E não apenas, porque temos pena da criança, mas talvez também porque nós mesmos não aguentamos, que um ser tão pequeno tenha problemas...
De quem realmente temos compaixão da criança ou de nós próprios?
Reparem neste simples exemplo, o vosso filho magoou-se e vem ter convosco a chorar. Não aconteceu nada de grave, apenas um arranhão, e vocês como pais poderão dizer: "Não foi nada, não precisas chorar", ou ainda: "Meu pobre menino! Não chores! Faz um sorriso para mim" e inicia-se então uma manobra de distracção.
Em ambos os casos, nem através da opressão nem do exagero, a criança se sente verdadeiramente compreendida. Os seus sentimentos não são reconhecidos, são minimizados ou mesmo negados. Pela atitude dos pais, prevê-se que estes sentimentos desagradáveis desapareçam tão rapidamente quanto possível. E é através do "Não chores mais!" que eles são naturalmente proibidos.
Pode parecer uma reacção inofensiva e natural  dos pais, mas que praticada regularmente desencadeia comportamentos de bloqueio, incerteza e insegurança na criança. Ela recebe a mensagem: "Não posso confiar nos meus sentimentos", o que as confunde certamente. Ou ainda, "Não posso sentir o que sinto", o que dará à criança a impressão de que algo está errado com ela própria.

O que eu quero dizer com isto tudo é que nestas situações acabamos muitas vezes por perder o foco, prejudicando em certa medida o desenvolvimento do nosso "mais que tudo".
Mas qual será a atitude mais correcta?
Eu diria: Que basta estar presente e proporcionar alívio emocional.
Assim, para que uma criança se possa desenvolver bem emocionalmente são, do meu ponto de vista, necessárias duas coisas: que as emoções sejam aprovadas e que a criança tome responsabilidade das mesmas, ou seja, que a criança auto-avalie quanto ruins ou sem importância os acontecimentos do momento foram para ela e desta forma procurar solução para os seus problemas.


Isto parece complicado, mas basicamente o que eu quero partilhar é bem simples. Em vez de um "Não chores!" pode ser um "Acho que te magoas-te"(o que podemos denominar de Active listening ). Isto faz com que a criança sinta um alivio emocional, ela sente-se compreendida. 
E nós não deixaremos de estar presentes para a ajudar, aconchegando-a e acalmando-a com um mimo, um abraço, deixando-a vivenciar os seus sentimentos e quando se recuperar é provável que não se lamente, mas sim se sinta levada a sério e compreendida. 
Tudo poderá então terminar num: "Não foi tão ruim assim.Vou brincar outra vez." Fazendo, naturalmente, uma grande diferença sermos nós a dizê-lo ou a própria criança por si mesma, neste último caso teremos a prova que a nossa atitude funcionou. 
E claro que poderemos perguntar-lhe: "O que te poderá animar agora?"  ou simplesmente agirmos, calmamente. Mas mantendo sempre longe o conforto barato e mais rápido, aquele que reprime e elimina os sentimentos desagradáveis. 

Ouça as reais necessidades da criança. Estar presentes, conscientemente em cada situação é muitas vezes suficiente.
Se o nosso filho é levado a sério e pode expressar as suas próprias emoções, desenvolve um bom equilibrio mental e não é emocionalmente bloqueado. Desta forma, ele aprende com o nosso apoio a ser competente e confiante o suficiente para cuidar de si próprio.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Blogagem colectiva - Ética

Quando precisamos fazer um trabalho, temos uma dúvida, uma curiosidade ou simplesmente tempo livre ligamos o computador e lá vamos nós viajar um pouco pela Internet. Nunca foi tão fácil aceder a tanta informação. Fazemos a pesquisa e em poucos segundos temos uma lista de sites com o que procuramos. Umas vezes boa informação, outras nem tanto mas temos tudo ao nosso dispor.
É tão fácil este acesso ao que procuramos, está tudo ali prontinho para lermos, analisarmos, alargarmos as nossas ideias.
Na minha opinião esta facilidade de pesquisa transmite a ideia errónea de que a informação nos pertence, nunca se pensa que para aquilo estar ali teve que haver alguém a colocá-lo, a pensar, a inspirar-se com o assunto, a organizar a ideia. Tal como raramente pensamos e nos questionamos que a cadeira onde nos sentamos alguém teve que a fazer (mas isto já é outra história e que longa história).
Quando dei aulas tinha como método frequente dizer aos meus alunos que escrevessem sobre um determinado assunto abordado, a minha ideia era que eles ao escrever pensassem, organizassem ideias, criassem e mesmo divulgassem a sua opinião... mas tive uma grande desilusão, pois, e não aconteceu só uma fez, alguns deles limitavam-se a pesquisar na Internet e a fazer "copy-paste" muitas vezes sem terem o cuidado de lerem o texto todo, de adaptarem melhor o português do Brasil para o português de Portugal de fazerem referências, nada. Conversei com eles, disse que era errado, tanto, que assim eles não pensavam sobre o assunto como era plágio, não estava certo pegar nas coisas de outra pessoa e simplesmente fazer de conta que nos pertence. Expliquem que ele poderiam inspirar-se nas ideias dos outros, resumir, fazer uma análise e fazer referência de onde tinham lido o que escreviam como citação... resultou, mas infelizmente não para todos os alunos. :(
Por isso, eu digo que esta facilidade de aceder a informação na Internet pode muitas vezes ser perigosa para quem pesquisa (pois nem sempre o que se encontra é "boa" informação e não desenvolve a sua própria criatividade, não se dá a esse trabalho) como desleal para quem a escreve e perde esse mérito.
No mundo dos blogues o plágio é algo que me parece ser bastante frequente, é triste,  pois estamos aqui para distribuir a nossa opinião para a quem a quer ler, explorar ideias, divulgar informação, inspirações, curiosidades e pensamentos.
Estamos na Internet, neste mundo vasto de todo, mãe dos blogues, onde como no mundo "real" nem tudo é justo e leal... e como diz o ditado "Quem sai aos seus, não degenera"... Mas nós estamos aqui para minimizar o problema, para promover a lealdade...
Não nos podemos esquecer que do outro lado existe gente como nós que dedicou parte do seu tempo para escrever o que lhe ia na alma... e se lemos e gostamos, podemos sim divulgar mas fazendo referencia de quem escreveu, ajudando desta forma a criar uma rede entre nós blogueiros, onde podemos enriquecer ideias, fazer nascer ideias novas, explorar opiniões, abrir os horizontes do nosso conhecimento e até mesmo fazer amizades.

E porque nós com as nossas atitudes estamos sempre a educar os mais novos que nos observam, devemos dar o exemplo, ser leais, sérios e acima de todo criativos... discutir e explorar ideias "sim", roubar cru e simplesmente "não". Porque neste novo mundo também é necessário educar e ensinar a explorar o que a Internet nos oferece... aqui fica a ideia... não deixe de o fazer com os mais pequenos... que eles de tecnologias sabem muito, mas podem não saber orientar-se.
Promova a inspiração, a criatividade e a lealdade.
Um óptimo dia para todos

domingo, 24 de outubro de 2010

As formas de distribuir carinho

E porque o Inverno por aqui parece que já chegou... e porque existem imensas formas de distribuir carinho...
Peguei no meu brinquedo, sim eu tenho um brinquedo (a minha máquina de costura), fiz um carinho para o Leo :)

E garanto que foi feito com muito amor e são uns sapatinhos bem quentinhos, para o Leo não ter hipóteses de ter os pezinhos frios quando anda a brincar cá por casa (usei tecido polar no interior).

E vocês como distribuem carinho aí por casa?


Mais do mesmo:
Fim de semana chuvoso e criança ocupada
As formas de distribuir carinho II
As formas de distribuir carinho III
As formas de distribuir carinho IV
As formas de distribuir carinho V

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Agressividade infantil

Muitos pais queixam-se que os filhos ainda bebés mostram agressividade, que se chateiam batem nos amiguinhos, por vezes nos pais, mordem, dão pontapés, mostram-se descontrolados. O Leo tem agido um bocadinho desta forma, ainda muito levemente... quando algo não corre como deseja ele levanta o braço e tenta acertar-me, bate o pé, chora com raiva. Eu tento controlar a situação falando com ele, explicando-lhe que assim não vai a lado nenhum e até agora tem resultado. Ele chega a chatear-se e depois olha para mim e abana a cabeça a dizer que não, ou seja, acho que está no bom caminho :) Embora saiba que este é o prenuncio de que a época das Birras está a caminho...
Isto leva-me a concluir que a agressividade nasce connosco, tal como o sentimento de afecto, amor e carinho. Manifestando-se de forma descontrolada, na sua forma virgem e inocente e precisa ser treinada, ensinada. É um sentimento normal e relativamente comum em crianças pequenas (entre os 1 e 3 anos).
O importante é termos noção que ninguém nasce capaz de dominar a sua agressividade, as crianças não aprenderam ainda a controlar os seus sentimentos e reacções, especialmente a frustração e a raiva que dela decore.
Reacções agressivas devem ser esperadas de vez em quando em crianças pequenas, ela pode usá-las como forma de demonstrar os seus sentimentos de desagrado, raiva, ciúme, ansiedade e até para chamar a atenção, temos que ficar atentos é se essa conduta persiste como única forma de a criança se expressar. Nesse caso, é momento de buscar caminhos para ajudar a criança, pois algo não está bem com o seu desenvolvimento.
Uma criança que não é ajudada, orientada neste processo de controlo dos seus sentimentos pode desenvolver problemas de socialização,  de relacionamento, auto-estima e desempenho nas actividades físicas e psicológicas que lhe possam propor.
O que poderemos então fazer para desde cedo ensinar os pequenos a demonstrar de uma forma mais pacifica o seu desagrado, controlando a agressividade?

Já referi em outro post da necessidade de dizer "não" e de sermos firmes. Sermos firmes, fazendo uso da nossa autoridade, conversando com eles calmamente as vezes que forem necessárias, segurar-lhe nas mãozinhas de forma firme mas não com força e olhar-lhe nos olhos, para que desta forma a criança perceba o nosso desagrado.
Conhecer a causa da agressividade pode ser uma grande ajuda, de forma a contornar a situação evitando o desencadear desse comportamento.
A criança tem que, com a nossa ajuda, começar a entender que magoa os outros com o seu descontrolo (palmadas, mordidas, arranhões).

Como o Leo ainda não deu muitos problemas não sei qual a melhor forma de lidar com a situação, até hoje foi suficiente conversar mostrando o meu desagrado, mas se a situação ficar mais descontrolada?

A pedagogia infantil deixa algumas dicas e sugestões:
"Se a criança persistir com os sentimentos descontrolados de agressividade:
  • Mostrar desagrado, colocando-a no berço ou chão se já caminhar.
  • Evitar deixar o seu filho ou aluno, machucar o amigo ou o irmão. No caso de isso acontecer, separar as crianças e atender primeiro o que foi ofendido. Isso mostra ao brigão que ele perde sua atenção quando age agressivamente. 
  • Nunca promover a vingança da vítima pois você estará passando a idéia de que a agressividade é permitida como revide, criando um círculo vicioso. No lugar disso, quando a situação é repetitiva, eleger uma conseqüência negativa: 
  • Não dar atenção por alguns minutos, sempre ensina muito mais do que gritos ou palmadas.
  • Se apesar de seus esforços, o comportamento agressivo persistir, é melhor procurar um especialista ou o recomendar aos pais, se você for o(a) professor(a) da criança."
Estudos mostraram que crianças pequenas, que não são ensinadas desde cedo a conter a sua agressividade, tendem a continuar com esse comportamento ao longo da infância e da adolescência, o que as leva a serem rejeitadas pelos colegas e a se juntar a grupos onde a violência é aceite, gerando um problema de conduta antissocial de proporções e consequências negativas e muito graves.

Como acontece com vocês? Como demonstram aos vossos pequenos estes sentimentos? O que fazem para os  ensinar a controlá-los? Deixem a vossa história, pois poderá ser uma grande ajuda para mim e outras mães que estão agora no inicio desta viagem.

Um óptimo dia por todos

domingo, 17 de outubro de 2010

Babies - o filme

O desenvolvimento de 4 bebés dos 4 cantos do mundo. Um documentário delicioso, vi este filme este fim de semana e recomendo. 
Há muitas formas de ter e cuidar dos filhos, dependendo da cultura em que estamos inserido, mas uma é sem duvida universal: com carinho e dedicação...
Gostei do filme pois mostra os extremos do mundo em que vivemos, que embora tão diferente consegue levar a cabo a criação de vida :) 
Fez-me questionar a forma como por vezes tratamos os nossos bebés como seres tão frágeis, mas que afinal conseguem ser tão fortes. E como para um bebé ser feliz basta a segurança de quem cuida dele... e nós que caímos tantas vezes em materialismos desnecessários... 
Bebés que nascem em diferentes culturas, diferentes princípios, diferentes oportunidades... mas que nunca perdem aquele olhar adorável que lhe conhecemos :) 
Official Trailer

sábado, 16 de outubro de 2010

É brincando que se aprende

Hoje deixo aqui um texto que me fez pensar e que gostaria de partilhar com vocês.  :)

Este texto de Rubem Alves, retirado do livro "O desejo de ensinar e a arte de aprender", leva-nos a viajar por outras ideias, leva-nos a reflectir sobre coisas que muitas vezes esquecemos, pois o turbilhão desta vida nos distrai destes pensamentos. Espero que gostem...

"É brincando que se aprende"
O professor Pardal gostava muito do Huguinho, Zezinho e Luizinho, e queria fazê-los felizes. Inventou, então, brinquedos que os fariam felizes sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que voava sempre, um pião que rodava sempre e um taco de basebol que acertava sempre na bola. Os três patinhos ficaram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que funcionavam sempre. Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo que dá certo sempre. Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desafio. Um brinquedo é um objeto que, olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”. O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeças de 24 peças? Pode ser desafio para uma criança de 3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeças de 500 peças é um desafio. Eu quero juntar as suas peças! E, para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono...
Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum. Que desafio existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga? Que desafio existe num carrinho que anda ao se apertar um botão? Como os brinquedos do professor Pardal, eles logo perdem a graça. Mas um cabo de vassoura vira um brinquedo se ele faz um desafio: “Vamos, equilibre-me em sua testa!”. Quando eu era menino, eu e meus amigos fazíamos competições para saber quem era capaz de equilibrar um cabo de vassoura na testa por mais tempo. O mesmo acontece com uma corda no momento em que ela deixa de ser coisa para se amarrar e passa a ser coisa de se pular. Laranjas podem ser brinquedos? Meu pai era um mestre em descascar laranjas sem arrebentar a casca e sem ferir a laranja. Para o meu pai, a laranja e o canivete eram brinquedos. Eu olhava para ele e tinha inveja. Assim, tratei de aprender. E, ainda hoje, quando vou descascar uma laranja, ela vira brinquedo nas minhas mãos ao me desafiar: “Vamos ver se você é capaz de tirar a minha casca sem me ferir e sem deixar que ela arrebente...”.
Há brinquedos que são desafios ao corpo, à sua força, habilidade, paciência... E há brinquedos que são desafios à inteligência. A inteligência gosta de brincar. Brincando ela salta e fica mais inteligente ainda. Brinquedo é tônico para a inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas que não são desafios, ela fica preguiçosa e emburrecida".

Perante um mundo tão materialista como aquele em que vivemos, as publicidades, as cores os sons... somos levados por vezes a comprar brinquedos aos nossos pequenos que acabam por ser diversão de poucos minutos. São bonitos, coloridos mas enfadonhos, não dão desafios...
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