terça-feira, 3 de maio de 2011

Educar do medo à autoconfiança

Quando a criança pequena demonstra medos que aos nossos olhos parecem demasiado estranhos ficamos naturalmente inseguros. Medo de um brinquedo novo, medo de um ruído... durante muito tempo o Leo tinha um medo enorme do aspirador nem precisava estar ligado se ele o visse chorava e gritava com um verdadeiro e sentido sentimento. A minha estratégia foi deixar que ele mesmo lidasse com seu medo, expliquei-lhe o que era aquilo, para que era usado. E pouco a pouco o Leo foi-se sentindo mais confiante até ao dia que o encontrei a tocar no aspirador explorando-o, não disse nada, deixei-o ali com os seus pensamentos e desde esse dia o Leo não tem mais medo, ele não gosta mas não tem medo.
O medo faz parte da vida, não é verdade? Devemos saber lidar com ele...

Uma vez numa conversa com uns amigos sobre as diferentes formas de medo houve um deles que disse: "Eu não conheço o sentimento de medo." E eu fiquei perplexa, não sabia se devia felicitá-lo, lamentar ou simplesmente não acreditar no que dizia. Decidi por lamentar. Eu sei dar valor ao meu medo, sei apreciar o seu valor. Quando criança eu tinha medo de ficar sozinha em casa, de participar na sala de aula, mas eu aprendi com estes medos, aprendi a lidar com eles e através desta aprendizagem ganhei autoconfiança. O medo também me ajudou a reagir adequadamente em situações dificeis. O medo faz parte.
Claro que nem todas as pessoas têm os mesmos medos ou sentem medo com a mesma intensidade. O medo faz parte das características psicológicas de cada um, tem o objetivo de nos proteger contra os perigos com que nos deparamos ou longo da vida.

Para os nossos filhos o medo é também uma parte do seu desenvolvimento saudável. Eles estão nos seus primeiros anos de vida e são confrontados diariamente com situações novas que podem aos seus olhos serem ameaçadoras. Dependendo da personalidade, sensibilidade e imaginação da criança o medo pode-se manifestar com intensidades diferentes. Mas também faz parte, são medos diferentes dos nossos naturalmente, mas são medos válidos e como em tudo temos que ter a sensibilidade de os olhar com os olhos de uma criança e não desvalorizá-los à luz da nossa compreensão do mundo.
E mais uma fez muitos medos não passam de uma fase, como é o caso do medo da separação e da perda que vão enfraquecendo e desaparecendo gradualmente. Só no caso de a criança demonstrar medos que cada vez se tornam mais fortes e se solidificam tornando-se limitações no seu dia-a-dia, interferindo na sua saúde deveremos procurar ajuda profissional, mas nestes casos passamos para outro campo mais complicado que são as fobias.

No entanto, banalizar o medo que a criança sente não é boa estratégia. Devemos num primeiro passo falar abertamente com o nosso filho sobre os seus medos. A criança vai acalmar-se, vai sentir que é levada a sério. Devemos falar sobre medo e incentivar o nosso filho a descrever o que sente, a descrever os seus sentimentos de medo e ansiedade. Nunca confrontá-lo com o medo mas sim deixá-lo à vontade para ele próprio quando se sentir preparado o enfrentar.

Existem rituais com vertentes positivas, que podem ajudar as crianças em idade escolar, crianças que enfrentam medos e que mesmo entendendo-os não se sentem capazes de os ultrapassar sozinhas. Pequenos rituais como bater as palmas quando sentem esse medo, fechar as mãos com força e contar até dez... por vezes pode ajudar se fizerem um desenho descrevendo o que sentem, uma encenação do medo ou exercícios de relaxamento como por exemplo ioga.

Em caso algum devemos inferiorizar a criança por sentir medo, não devemos dessuadi-la, frase do tipo "Tu não precisas ter medo" não trazem resultados positivos. A segurança e aprendizagem na primeira infância são os pilar para o desenvolvimento saudável. Todos os relacionamentos posteriores serão baseados nelas.
Se nós pais permitirmos que os nossos filhos enfrentem os  seus próprios medos, sem super proteger estaremos a oferecer-lhes segurança, autoconfiança. E uma criança com autoconfiança ultrapassará posteriormente as situações stressantes e ameaçadoras da vida com mais facilidade.
E acredito que se deixarmos os nossos filhos explorar sem super-proteger sem lhe mostrar o nosso próprio medo ou a nossa própria ansiedade com o seu desenvolvimento, estaremos a construir as melhores cartas, as melhores ferramentas para que um dia o nosso filho possa dizer: "Os meus pais foram para mim um porto seguro onde eu sempre me pude ancorar".

7 comentários:

Cora disse... [Responder Comentário]

Um vez me vesti de bruxa na festa da minha sobrinha...ela era a branca de neve...uma graça!
Bom o caso é que algumas crianças choravam ,mesmo as maiores.
Tirei a mascara algumas vezes na ocasião para mostrar que era uam brincadeira.
Hoje com o conhecimento teórico que tenho, não faria, não tiraria a máscara.
Deixaria que eles lidassem com o mdeo do desconhecido.

Tenho alguns alunos, que não conseguem lidar com situações diferentes.
As vezes uma simples refeição me local diferente já os deixa ansiosos!
Discordo um pouco dos rituais para que a criança se expresse quando sente medo, não acredito que desenhar o que esta sentindo a faça sentir-se melhor.
Enfim, apenas minha opinião.

Gostei muito do texto.
beijos.
Cora.

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Todos nós sentimos medo... aliás é um sentimento util, deixa-nos alerta..

Nós temos os animais têm... Mas lá está temos de aprender lidar com ele(s).

:)

Naiara Krauspenhar disse... [Responder Comentário]

Concordo.
Não devemos banalizar o sentimento das crianças...
Afinal, aquele é um sentimento real!

Mas o que me intriga muito além de tudo isso, é a maneira como algumas pessoas "incutem" o medo nas crianças.

Tenho uma amiga que fica falando do bicho-papão o tempo todo pra filha dela.

Que se ela fizer isso ou aquilo o bicho-papão vai vir pegá-la.
Sempre que GG vai na casa delas volta com essa história.
Então sento, explico, mas vejo que ela fica em dúvida. E volta e meia toca no nome do tal bicho-papão.

Agora me diz: Pra que isso? Porque inventar algo pra se ter medo?

Genislene Borges disse... [Responder Comentário]

Eu tô encantada com seu blog.

Anónimo disse... [Responder Comentário]

Preciso de ajuda, estou a ficar desesperada! tenho uma filhota com 4 anos que de um dia para o outro voltou a fazer xixi e coco nas cuecas.Noto que anda nervosa, que o minimo levantar de voz ou gesto mais brusco feito perto dela a deixa em panico ou mt nervosa.O facto de o pai estar com ela, por motivos profissionais, so ao fim de semana sei q tb a afectou, mas mais n sei...:(ja fomos ao medico e a nivel fisico está td bem com ela, alguem tem opinioes de como reforçar a auto-estima dela? se alguem me poder ajudar agradeço imenso

Sofia disse... [Responder Comentário]

@Anónimo Não sou especialista em pediatria ou psicologia infantil mas posso deixar-lhe o meu conselho...
É evidente que algo de errado está a acontecer com a sua filha... e a autoestima é na minha opinião uma arma que todos nós temos para ultrapassar os nossos problemas, aumentando a autoestima da sua filha estará certamente a ajudá-la a ultrapassar os seus problemas sejam eles quais forem.
O facto de o pai só estar ao fim de semana realmente pode ser uma razão, ela pode se estar a sentir abandonada por ele, tentem compensar em telefonemas e fins de semanas agradáveis juntos.
E caso ela não esteja a sofrer nenhum ato de violência psicológica no infantário, por exemplo (estou só a supor pois não tenho informação suficiente para opinar), o ela andar nervosa pode ser sim falta de confiança em si mesma.
O melhor a fazer é dar-lhe muito mimo e compreensão e acima de tudo dar o exemplo, a sua auto-estima como está?? O seu desespero pode estar a dificultar... tente manter-se positiva e acima de tudo dê muito mimo e atenção para a sua pequena.
Vou postar um texto que tenho andado a preparar sobre auto-confiança espero que a possa ajudar
um beijo
e muita força

Anónimo disse... [Responder Comentário]

obigada pela força Sofia. tanto eu como o pai tentamos não trasparecer os nossos problemas diarios para ela, mas por vezes ela como ja tem 4 anos "apanha-os" na mesma. :( tentamos dar o maximo de mimo e de "segurança" realmente o infantario tb n tem ajudado mt porq em vez de reforçarem os comportamentos positivos dela estao sempre a lembra la das "asneiras" e descuidos,ja falei com educadora e vai tentar melhorar tb os seus metodos. obrigada pela ajuda

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